30 outubro, 2006

- Não entendi essa mensagem.
- Hã?
- A mensagem... chegou, não entendi.

Ele esticou o celular à ela, que sentada num degrau, fumava seu cigarro em paz. Leu a mensagem e não entendeu nada também. Não tinha número pra resposta, mas era nitidamente uma mensagem apaixonada. Esticou o celular de volta à ele, com uma pequena [quase mísera] ponta de ciúmes. Passara alguns tantos dias, desde a última vez, quando se despedaçou em lágrimas diante dele e depois fugiu, com vergonha do delito. Dias e dias de silêncio e tortura. Tragou o cigarro lentamente. Soltou a fumaça e viu-a dissipar na escuridão. Olhou-o. Ele aguardava uma resposta, agachado ao lado dela.

- O quê? - ela pergunta, sem saber o que ele esperava dela.
- Não vai decifrar pra mim? - ele estava sorrindo tão bonito, que ela se tocou.
- Não fui eu não. - disse, friamente.

Silêncio. A expressão no rosto dele foi digna de uma foto. O sorriso murchando aos poucos. Ela até conseguiria transformar aquilo em palavras: "Como assim, não foi você?". Era isso a tradução da feição dele. Ainda quieta por um bom tempo, com ele perto dela, tentava imaginar se ele gostaria que fosse dela e por isso a decepção; ou se estava preocupado com o tropeço que acabara de dar, achando que era dela uma mensagem que, definitivamente, não era....

- Não fui eu, juro. - ela falou, depois que jogou a bituca do cigarro ao longe.

Há bastante dias ela acompanhava onde caía a bituca, porque sempre caía com a brasa voltada pra ele. Se não diretamente pra ele, pelo menos em direção da onde ele estaria. Diz a lenda que bituca voltada pra pessoa, ou pra onde está a pessoa, é sinal que ela está pensando em você. Cretinice de adolescência, que voltou a recordar depois que o conheceu. Dessa vez, não foi diferente. O finzinho da brasa o apontava. Ela sorriu.

Ele permanecia ao lado dela, talvez tentando ler seus pensamentos ou entender porque ela sorria pra uma bituca. Levantou-se só na hora que ela levantou. Não havia mais nada para dizer. Era um equívoco, e ele deu uma mancada e tanto. Ela o olhou demoradamente, deu um beijo no rosto dele, olhou novamente aquela expressão, esperou alguma coisa que não veio e, finalmente, voltou pra sala. Assim, em silêncio.

 
27 outubro, 2006

então, morreu o pai de um amigo.
pai alcóolatra, batia na mãe, fazia todos sofrerem, vagabundo, roubava grana dos filhos pra jogar, beber, fumar.
na hora que me avisaram, pensei: puxa, acho que foi bom.
no velório, o amigo e o irmão do amigo estavam abatidos, mas .... bem.
já a mãe deles, que é uma gracinha de pessoa, estava encostada num canto, meio dopada, deram uns remédios pra ela.
quando fui abraçá-la, ela disse: "diz pra mim que não é ele que tá ali, filha... ele tá lá em casa, né?"

.
.
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saí de lá com a certeza absoluta que o ser humano acostuma-se com tudo: até com as coisas ruins da vida. na porta, onde o irmão do amigo estava, ao despedir-me, ouvi:

- Ele pediu por isso, né não? Tinha duas portas. Do céu e do inferno. A gente, do lado de cá, esticava a mão, falava 'vem, pai, sai daí'. Mas ele não, cismava em ficar lá na outra porta, que ele era mais ele, que cada um na sua, não se mete na minha vida e vive a sua. Deu no que deu, não é? Não é isso?

abraçei-o, porque eu faltei na aula de frases que se falam nessa hora.

:(

 
24 outubro, 2006
 
22 outubro, 2006

Fizeram comigo ontem:

(importante: use uma calculadora)

Que dia será a votação do 2º turno? (29)
Que mês? (10)
Que ano? Dois mil e? (06)

Se quiser que o Brasil cresça, some os números.
Se quiser que decresça, subtraia.

;)


Update: Então que esse postezinho miserável me rendeu uns blablablas, até no email. Não pretendia explicar a piada, mas somando dá 45 e subtraindo dá 13. Interessante os números, isso que eu quis dizer. E por mais que eu vá votar no Alckmin, e eu não precise ficar expondo minhas questões políticas aqui, não admito que façam piada da coisa toda, com exceção do Abud, que é meu amigo e tal. Nunca admiti isso em comentários, e não seria agora. Antes de mais nada, embora internet pareça terra de ninguém, o espaço aqui é MEU, pago por ele, e coloco o que eu quiser. Inclusive um vátefoder pros incomodados. Repito: o x ali do lado direito da tela é a serventia da casa.Sinta-se a vontade. Certamente não escrevo pra pessoas como você. Se achou idiotice, v-a-z-a. Cansada de bancar a educadinha. Vá ler Camões e passe bem.

 
18 outubro, 2006

if i close my eyes forever, would it ease the pain?
 
17 outubro, 2006

Minha tia queria fazer seilámaisoquê no shopping e subiu na minha sala pra ver se eu poderia acompanhá-la. Ela estava com a Rafa e acho que só queria dar umas voltas mesmo, afinal é raríssimo uma segunda-feira que ela esteja de folga e, coincidentemente, ela chegou numa hora em que eu podia sair - e essas horas estão cada vez mais em evidência, dá até medo.

Como o shopping nem é tão grande assim, em 20 minutos já tínhamos visto tudo. Eu, como sempre, verde-babando nas sandálias, e sem um puto pra esbanjar. Até sabia que minha tia devia ter a$gum ali, mas ela também nem se manifestou, a *vaca*.

Então, pra passar o tempo, 'fomos' tomar um sorvete. E nem de sorvete eu gosto, então acompanhei-as, mas não quis nada. Daí que a gente começou a reparar na Rafa, o quanto cresceu, tá moça, esses papos. Foi quando minha tia disse: "Daqui a pouco, inventa um piercing". E eu sei que ela quer um, já tinha rolado um papo do que podia, do que não podia, da onde podia, da onde não podia.

A Rafa se manifestou, disse que queria mesmo, um brilhantinho no nariz, mas que tinha consciência de que tinha rinite e não ia ser legal... mas que colocaria na orelha de boa, no umbigo também, se eu deixava no umbigo, se eu deixava na orelha, toda a história de novo.... daí vira a minha tia e diz: "aqui não tem estúdio????"

Dentro do shopping tem um estúdio. A gente já tinha até fuçado lá uma outra vez, porque ela, minha tia, é louca por uma tatto. Tem cinquenta anos, mas tem cara de trinta, sabe? E é louquinha pra fazer uma, e nunca têm coragem. Daí fomos pro estúdio pra ver o preço e tal. A Rafa cintilava.

Povo mais estranho esse de estúdio de tatuagem, não? Mas enfim. Vimos um brilhantinho pra orelha, uma graça. Minha tia concordou, pagou, eu assinei uns termos (3 vias!!!) e lá foi a Rafa, com um magrelão de olho superazul, furar a orelha na cartilagem, bem em cima.

Achei que ela ia chorar, mas nem chorou. O cara conversando sobre "que legal, que mãe maneira, a maioria das mães não deixam", acabou descontraindo, parecia mais um médico, de touca, luva cirúrgica, jaleco, máscara e alargadores na orelha furando a Rafa, haha. Ficou lindo colocado e emocionei, mãe bobona. Então, que o malucão começa a ladaínha do que não poderia comer por 2 meses: chocolate, qualquer derivado de amendoim, catchup, mostarda, maionese, nada com sazón, ou muito temperado, molho de tomate forte, carne de peixe ou porco, cheddar, fritura, uma infinidade de coisas.

A Rafa com os olhos esbugalhados, prestando atenção e olhando pra mim, assustada. Por dois segundos, até achei que ele estava tirando com a cara dela, mas era verdade. Daí ele disse:

- Entendeu tudo, dona Rafa?
- Depois do 'chocolate' não ouvi mais nada. - ela falou, cabisbaixa.

Gargalhadas geral, voltei pro trabalho abraçada com meu bebezinho de piercing. E o tempo não pára não, não pára. *Aiai*.

 
13 outubro, 2006

Então decidimos nos reunir pra um churrasco só de mulherada. Engraçado que não teve stress nem pra ver o que cada uma ia levar. Já vi muito homem brigando por causa disso: se é grana, um não deu, outro deu pouco; se é em produto, um levou cerveja boa, outro levou cerveja ralé, outro só deu meio quilo de carne.

Mulher não. Leva o que tem em casa e fim. Estava combinado que iam umas 8, que se resumiu em 5: eu, a Viviane, a Gil, a Érica e a Jô, na casa da Gil, um sobradão com vista maravilhosa pra Dutra, rs. Fui rindo no carro, porque escutamos muita piadinha do tipo: Vocês sabem acender uma churrasqueira? E não, eu não sabia. Ninguém sabia. Mas sempre é tempo de aprender, não é mesmo, minha gente?

Peguei a Viviane, pra irmos num carro só, e chegamos lá com chuva. Vamos ter que esquecer a piscina!, já lamentando. Que piscina?, pergunto eu. E ela esclarece: A casa da Gil tem piscina, flor. O marido dela é um poderosão aí. Como eu nunca tinha ido lá, não sabia. Como também ninguém me falou nada antes, nem tinha levado bíquini mesmo. E com aquela chuva, só louco. Enfim.

Uma foi cortar a carne, outra temperava a maionese, outra acendia a churrasqueira numa facilidade incrível. Mais uma habilidade que eu julgava masculina ser eximiamente superada pelo dito 'sexo frágil'. Passa a carne no sal grosso, põe lá, bate pra sair o excesso do sal, e vira dum lado, vira do outro e bebe cerveja Sol. Alguém levou muita cerveja Sol, agora fabricada aqui na Kaiser, que não é mais Kaiser, mas não lembro o novo nome. Até começar a comer, acho que já tinha bebido umas 4 latas. E falado muita bobagem.

Comemos feito umas vacas, e sobrou-nos beber e dançar. Lamentei ter esquecido a máquina fotográfica quando vi a Jô e a Vi dançando funk. Depois forró. Depois funk e forró. C-h-o-r-e-i de rir quando a Jô trêbada, dançando forró comigo (coisa que não se conta nem pro padre, eu sei) disse que eu 'era quente'. Assim mesmo: "Amiiiiiiiiiiiga, eu não sabia [irc] que você era queeeeeeeeeeeeente assim!"

Não conseguia párar de rir mais. Depois dessa, foi uma consequência de besteiras e bobagens irrelatáveis até mesmo aqui. Acabou com a Érica vomitando de cima da grade diretamente dentro da piscina. Passei mal de tanto rir. E fui a única que me safei da rodada de pinga (que era pra virar caipirinha, mas ninguém levou limão...) porque eu ia dirigir. Boazinhas elas, não?

Segunda-feira, onde todas nos reencontraremos em ambiente profissional, seremos AS santas novamente, com a índole acima de qualquer suspeita. Mas até lá, ainda vou relembrar e rir muito da risada da Gil (parece brinquedo), da Jô caída no corredor; olhinhos vesgos de tão mal que estava; a Viviane pedindo pra eu ligar pro marido pra pedir desculpas de ter bebido tanto; de todo mundo falando 'eu tôoooo leeeeeeeeegal', mas muito mal; da crise infinita de gargalhadas de ver a Érica debruçada em cima da grade um nível acima da piscina, e o vômito dela todo lá, boiando.

Porque, às vezes, a vida vale a pena.

 
12 outubro, 2006

Não tive uma infância de grandes lembranças. Fui criada pela minha avó, junto dos meus irmãos, e não lembro de nenhum presente de dia das crianças. Passava meio batido. Meu irmão mais velho que, desde que nasci lembro-me dele trabalhando, era quem me trazia jujubas, chips, cigarrinho de chocolate e uma balinhas azedinhas, que a embalagem era uma fita de plástico, e cada bala ficava numa repartição daquela fita, onde tinha um animalzinho. Eu sempre queria a da girafa, que geralmente ficava no meio da fita, então chupava todas as outras que me impediam de chegar até ela rapidinho, porque eu não podia ir direto no da girafa, se não era xingo na certa. Tinham também os famosos Dadinhos, bala mole de amendoim, que inclusive mandei pra alguns amigos, natal passado, uma caneca cheia delas.

Tinha uma melhor amiga, mais rica, que morava na outra rua. Renata o nome dela. Tem a mesma idade que eu, e hoje ainda a reencontro e abanamos as mãos num oi seco. Com ela que peguei paixão em papel de carta, e com muito custo, fiz uma pasta deles (graças ao mesmo irmão, que me dava umas moedas de vez em quando). Enquanto ela tinha umas 6 pastas, eu montava a primeira e única. Mas era meu xodó. E ficou de herança pras minhas filhas.

Deixei outras heranças também, como não brincar na rua. Nunca brinquei e elas também nunca brincaram. Tenho pavor de crianças barulhentas, porque nunca fui assim, e por consequência, as minhas também não são. De forma contrária, nunca tive uma Barbie. Minhas bonecas eram todas dessas ganhadas em fábrica, pelos meus pais. Também nunca tive patins (minha amiga rica tinha, e eu amava), nem bicicleta. Minhas filhas tem uma centena de barbies, uma bicicleta de cada, patinete, patins roller, as melhores bonecas, e não entendem muito bem quando eu falo que elas precisam dar valor à tudo isso.

Enfim. Todo Dia das Crianças eu lembro de tudo isso. E ao abraçá-las de manhã, temos um longo papo, sempre. Do quanto eu gostaria de voltar a ser criança, com minha bala de girafinha e meus Dadinhos de amendoim. E que um pouco dessa criança permanece na luta constante aqui dentro: a busca por um mundo mais bonito, pra elas... Feliz Dia das Crianças à todos vocês.

 
10 outubro, 2006

"Vamos conversar. Você me quebrou ao meio hoje. Desculpa a total falta de reação. Estou tão confuso quanto você, acredite."

Ela leu a mensagem umas seis vezes. Mas ainda não sabia o que fazer. Aquilo estava indo longe demais. Conversar mais o quê? Já sabia que ele tinha filhos de um casamento falido, já sabia que ele namorava há bastante tempo, já sabia que ele mexia com ela d'uma forma escandalosa. Que mais precisaria ser dito? Pôxa, as férias de verão estão aí, pertinho. A esperança de tudo isso acabar de vez são essas malditas férias. Já tinha sido racional e pensando friamente em tudo. Fricote, passaria quando deixasse de vê-lo. Pronto. Quem pede conversa num relacionamento é a mulher, não o homem. Que tanto ele queria deixar claro? Bastava deixá-la quieta no canto dela. Por que deixara ir tão longe? Nem aconteceu nada, está assim. Por que conversar de novo?

Quando deu em si, já estava no carro indo embora. Não queria conversa. E alguma força a ajudou a não encontrar com ele. Escapara. Até quando, não sabia. Mas já havia chorado aquele dia, na frente dele, e não ia fazer de novo. Estava frágil demais. Melhor assim. Melhor assim - pensava num círculo vicioso, enquanto rolava na cama, esperando o sono chegar.

Onde será que ele estava que não o encontrou?
O que será que ele queria, meu Deus?
Será que ele ficou esperando até muito tempo?
Porque complicava tanto, hã?
Onde está o remédio de dormir?
Melhor assim, melhor assim....

 
07 outubro, 2006

As primeiras aulas tinham passado difíceis, naquele dia. Ela não acreditava que tinha chorado diante dele. Já não bastava o mico da carta? Escrevera uma carta, contanto tudo que sentia e tudo que não entendia. Em letras caprichadas, à moda antiga, relatara o quão confusa estava e que não pretendia levar aquilo adiante.... estava rápido demais, tinha medo, por causa de todo um passado tatuado na alma. Explicara tudo. Dizia que, embora uma grata surpresa -o coração dela ainda fucionava, depois de tanto maltratado!!!- não queria destruir relacionamento de ninguém. No final, em post-scriptum, acrescentara que, claro, o caminho estava aberto, isso ela não poderia negar. Mas ela não caminharia por ele. Já ele.....

Depois da entrega da carta, (além de uma exagerada dose de coragem para tal, há necessidade também de uma tremenda cara-de-pau), arrastaram dias e dias em silêncio. Ela já tinha passado da ansiedade desesperadora ao conformismo total. Até que, um dia, ele passa por ela, e sem rodeios, beija-a no rosto e sussura: "Belas palavras...."

Ficara tudo subentendido. Não sabia distinguir direito o que ele entendeu, por achar assim, belo. Mas também não ia perguntar. Já tinha sido por demais impulsiva. Adotara o silêncio, até aquele fatídico dia, onde morreu na frente dele, entregou todos os pontos, foi fraca, chorou e saiu correndo.

Agora, não sabia como ia sair da sala de aula pra ir embora. Queria ter umas vinte aulas, até umas duas da madrugada, mas não queria sair dali. Sentia-se uma adolescente desvairada, esquematizando um plano de fuga. E se mais pessoas tivessem a visto chorar? Vergonha. Tá certo. Daqui alguns minutos, no máximo cinco, teria que ir. Só faltava ela, naquela sala. Respondera um "estou indo" para uma meia dúzia de gente, que estranhou vê-la sentada ainda, sem reação.

Quando, finalmente, levantou e decidiu que não olharia pra absolutamente ninguém, sentiu seu celular vibrar. Era mensagem. Dele.

 
06 outubro, 2006

Ontem, estava conversando com uma amiga. Éramos em umas quatro mulheres, na mesa. A amiga, desabafava. Carregava um segredo e não aguentava mais a pressão. Queria contar. Não achei que o momento era muito propício, mas quem queria falar era ela, então...

Ela é nova, tem 23 anos. Toda vez que a olho, enxergo muita ansiedade, muita beleza e pouquíssimo bom-senso, típico de uma mulher em transição. Com 23 anos, eu já tinha a Rafa e estava grávida da Raquel, mas ela não. Ela estava procurando aquele primeiro sentido na vida, um grande amor, essas resoluções que, inevitavelmente, aparecem em nossa vida e são parecem tão importantes.

Nos contava que se envolveu com um homem casado. Até aí, morreu a neusa. Mas a coisa ia além.... Que estava apaixonada. Que ele era isso, aquilo, assim, assado. Os olhos brilhavam, ela contava tudo com muita emoção. Eu, quieta, ouvia. De repente, surgiu a pergunta, não de mim, que estava meio alheia àquilo tudo.

- quem é o príncipe?

Falou que era fulano, um médico conhecidíssimo aqui na cidade. O médico que operou a Raquel, da adenóide. Conhecia-o muito bem. Charmosão, até. Mas muitíssimo bem casado. Muito bem colocado na vida. Filhos maravilhosos. Esposa maravilhosa. (...) Disfarcei a cara de espanto. Ia ficar ali na minha, juro. Mas ela pediu minha opinião. E se tem uma coisa que eu prezo muito em mim é a minha sinceridade. Há muito tempo adotei o 'me ame ou me deixe'. Respondi com um "Tem certeza?" e diante da afirmativa dela, disse que ele só queria comê-la algumas vezes.

Choque total. Só eu achava aquilo. As duas outras mulheres na mesa, perplexas, condenaram-me. Que eu estava errada. Que eu não meço palavras. Que eu era uma bruxa. Não, 'uma bruxa' não falaram, mas até cheguei a me sentir assim.... Vi que tinha falado merda, mas insisti, porque era o que eu realmente achava. Ainda completei que dali a um mês conversaríamos, e se eu estivesse errada, pagava uma cerveja pra ela, então.

Cheguei até a perguntar pra uma das outras moças, que defendia a posição de apaixonada da amiga, se ela realmente pensava que o tal médico ia largar a esposa, se realmente achava que ele já está separado, que não transa a mulher faz tempo, que leva uma vida solitária e infeliz. Isso tudo na frente da amiga, que olhava com os olhos marejados, tristes comigo. Eu cheguei a cogitar em pedir desculpas. Mas pedir desculpas pelo que penso? Por Deus! Ninguém ali enxergava a lógica do médico cinquentão? Isso é mais velho que andar pra frente!!!!

Nunca fui a dona da verdade, fui questionada, e respondi com muita sinceridade. Acho lastimável pessoas que dizem o que a outra quer ouvir. Fica aparente a falsidade. E, por mais que eu fale o que eu penso, ninguém está dizendo que é o certo, que é pra seguir aquilo. Acabamos seguindo sempre o coração mesmo. Nem adianta o que nos falam, ora essa.

Se em algum momento a amiga falasse que queria curtir o momento, se em algum momento ela dissesse: "ele é maravilhoso, mas sei que ele é casado, e que nunca deixará a esposa", eu ia rir e dizer: "isso mesmo, honey! aproveita o momento!". Mas ela está apaixonada, acreditando em todas as vírgulas do médico, vendo um futuro feliz, onde eles tomariam café da manhã juntos na mansão dele, e enquanto ele trabalharia no consultório, ela passearia no shopping com os filhos dele, enquanto a ex iria pro cabelereiro mudar o visual pra um quiçá novo namorado de vinte anos.

Saí dali me perguntando se estou amarga demais. Tenho ciência que não preciso sair magoando todo mundo. Mas era tanta ilusão na cabeça da menina, que não consegui fazer de conta que nada estava acontecendo. Ou até pior: incentivar aquilo. Depois, tentou me convencer que não está apaixonada, que a palavra certa era 'empolgada', mas cá comigo, não funcionaria mais. Não foram as palavras dela que me assustaram de tanta ingenuidade. Eram os olhos. Esses espelhos d'alma.

De toda forma, acho que essa nunca mais me pede uma opinião.

 
03 outubro, 2006

* Se alguma imagem não abrir de primeira, tenta atualizar a página. Se mesmo assim não abrir, enton non sabo....

5 - Dusting Hoffman

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4 - Harrison Ford

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3 - Kevin Costner

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2 - Richard Gere

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1 - Pierce Brosnan

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Eu daria gostosinho, bônus 1: Robert Redford

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Eu daria gostosinho, bônus 2: Al pacino

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Os dias passam, sem quase novidade alguma. Ela até que fugiu um pouco, da forma que pôde, porque a razão -devido à um turbilhão de outros problemas- estava aos berros, anulando o coração. Já havia pensado em tudo que podia sobre ele. Não queria, não pretendia, não era possível pra ela lidar com um romance em potencial problemático; mesmo com tanta sinceridade. Sim, ele havia sido sincero e, conforme ele mesmo, essa era sua única intenção.

Havia notado que, de repente, ele se tornou um homem cobiçado. Eram párar pra conversar 2 minutos, que sempre aparecia alguém. Até mesmo sua amiga parecia tentar seduzi-lo. Ou eram coisas da cabeça apaixonada dela, não saberia definir ao certo. Então, se afastou. Fugia. Decidira priorizar outras coisas, principalmente as provas. Deixara de fazer florzinhas no canto das apostilas. Tinha 4 páginas da agenda para resolver. "Se concentre nisso, então!"

De fato, conseguira envolver-se com a macroeconomia por dias a fio. Chegava mais tarde, uns 15 minutos. Eram sufucientes para não vê-lo na entrada, nem esbarrar com ele pelos corredores. Até o dia que ele ficou esperando-a no estacionamento. Claro que notou sua fuga. Claro que queria explicações.

- Mas te devo explicações? - disse ela sem jeito.

No fundo, no fundo, ela achava que devia sim. No fundo, no fundo, ela amou vê-lo ali, no estacionamento, barrando a entrada do carro. No fundo, no fundo, o coração galopava. E no meio disso tudo, ele a acompanhou, falando, falando, falando.

'Te magoei, eu sei.'
'Mas está me magoando também, saiba.'
'Não foge de mim, porra.'
'Fui sincero, queria o contrário?'
'Dá pra párar de andar e me escutar, por Deus???'

Ela parou. Queria chorar. Sentia as lágrimas ali, nos olhos. Não pisque, pensava. Olhou pra ele e disse que sim, que estava escutando-o. Mas que achava que não queria mais esse problema pra ela. Que havia decidido envolver-se de novo, mas não assim. Queria ser feliz um pouquinho só. E que pra isso, não poderia deixar nada atrapalhar, e um relacionamento escuso não estava nos planos dela. Não saberia lidar com isso. Não queria lidar com isso. Não poderia lidar com isso. Ele a interrompeu, bruscamente, e disse, numa suavidade de arrepiar:

- Você trocou de perfume por quê?

Ele a olhava. As lágrimas dos olhos dela desciam, não teve jeito. Estava mesmo apaixonada por cada poro daquele homem. Em um relance de olhar, ou dois, ela olhava o desenho da boca dele e suspirava. Tão perto e tão longe. Pediu para ir. Não aguentava mais. Pediu para ele não procurá-la mais. Me deixe, pedia. Ele ficou ali, parado. Olhando pra ela, que sumia corredor adentro.

 
02 outubro, 2006
§

Eu nunca torci tanto por um segundo turno pra presidência como torci ontem. Quase fui dar um beijo na televisão, no charmosérrimo apresentador da Globo, Márcio Gomes, quando finalmente foi anunciado. Ele não tem um quê de Clark Kent?

§

E numa conversa, eu e um amigo:

- Tá. Fala aí então uma coisa que você nunca fez na cama e gostaria muito de fazer?
- Duas mulheres.
- Tsc. Isso todos os homens querem. Não vale. Uma outra coisa, vai.
- Três mulheres?

rs.

§

A situação tá muito mais pra chorar do que pra rir. Mas vou indo pra não pirar. Alguém realmente invejava minha vida, sei lá. Tá tudo encantado, trabalho não rende, pagamento faz chorar, bônus cessaram, contas assustam. Hoje passei a parte da manhã inteira cortando tudo de novo. E quer saber? A Directv é a melhor negociadora de todas. A Telefônica é um lixo, além de muito estressante e ruim de jogo - mesmo eu pretendendo cancelar, eles são barra pesada. No Terra, fiquei mais de 40 minutos pra conseguir um desconto praticamente irrisório. Isso aqui, ô ô.

§

Daí me lembro uma vez que escutei d'um professor que os classes média baixa e baixa são os que mais honram suas dívidas. Nunca entendi essa coisa de gente cheia da grana não pagar por nada. Principalmente gente da televisão. Ganham tudo. E são os que mais podem pagar.

§

Vi um comercial -não lembro do quê- que a mulher tá na fila do caixa do supermercado e a caixa pergunta à ela se pode ficar devendo um centavo e ela diz que não, não pode. E que se fosse o contrário, se a cliente ficasse devendo um centavo, não poderia. Já aconteceu comigo. Não aceito nem balinha. Quero o um centavo. Dois, três que seja. Já até arrumei confusão por causa disso. E ando caçando confusão à torto e à direito. De grão em grão.... ah, tecatare.

§

Então, o negócio é esse aí.
Rir pra não pirar, saca?