27 outubro, 2006

então, morreu o pai de um amigo.
pai alcóolatra, batia na mãe, fazia todos sofrerem, vagabundo, roubava grana dos filhos pra jogar, beber, fumar.
na hora que me avisaram, pensei: puxa, acho que foi bom.
no velório, o amigo e o irmão do amigo estavam abatidos, mas .... bem.
já a mãe deles, que é uma gracinha de pessoa, estava encostada num canto, meio dopada, deram uns remédios pra ela.
quando fui abraçá-la, ela disse: "diz pra mim que não é ele que tá ali, filha... ele tá lá em casa, né?"

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saí de lá com a certeza absoluta que o ser humano acostuma-se com tudo: até com as coisas ruins da vida. na porta, onde o irmão do amigo estava, ao despedir-me, ouvi:

- Ele pediu por isso, né não? Tinha duas portas. Do céu e do inferno. A gente, do lado de cá, esticava a mão, falava 'vem, pai, sai daí'. Mas ele não, cismava em ficar lá na outra porta, que ele era mais ele, que cada um na sua, não se mete na minha vida e vive a sua. Deu no que deu, não é? Não é isso?

abraçei-o, porque eu faltei na aula de frases que se falam nessa hora.

:(