06 outubro, 2006

Ontem, estava conversando com uma amiga. Éramos em umas quatro mulheres, na mesa. A amiga, desabafava. Carregava um segredo e não aguentava mais a pressão. Queria contar. Não achei que o momento era muito propício, mas quem queria falar era ela, então...

Ela é nova, tem 23 anos. Toda vez que a olho, enxergo muita ansiedade, muita beleza e pouquíssimo bom-senso, típico de uma mulher em transição. Com 23 anos, eu já tinha a Rafa e estava grávida da Raquel, mas ela não. Ela estava procurando aquele primeiro sentido na vida, um grande amor, essas resoluções que, inevitavelmente, aparecem em nossa vida e são parecem tão importantes.

Nos contava que se envolveu com um homem casado. Até aí, morreu a neusa. Mas a coisa ia além.... Que estava apaixonada. Que ele era isso, aquilo, assim, assado. Os olhos brilhavam, ela contava tudo com muita emoção. Eu, quieta, ouvia. De repente, surgiu a pergunta, não de mim, que estava meio alheia àquilo tudo.

- quem é o príncipe?

Falou que era fulano, um médico conhecidíssimo aqui na cidade. O médico que operou a Raquel, da adenóide. Conhecia-o muito bem. Charmosão, até. Mas muitíssimo bem casado. Muito bem colocado na vida. Filhos maravilhosos. Esposa maravilhosa. (...) Disfarcei a cara de espanto. Ia ficar ali na minha, juro. Mas ela pediu minha opinião. E se tem uma coisa que eu prezo muito em mim é a minha sinceridade. Há muito tempo adotei o 'me ame ou me deixe'. Respondi com um "Tem certeza?" e diante da afirmativa dela, disse que ele só queria comê-la algumas vezes.

Choque total. Só eu achava aquilo. As duas outras mulheres na mesa, perplexas, condenaram-me. Que eu estava errada. Que eu não meço palavras. Que eu era uma bruxa. Não, 'uma bruxa' não falaram, mas até cheguei a me sentir assim.... Vi que tinha falado merda, mas insisti, porque era o que eu realmente achava. Ainda completei que dali a um mês conversaríamos, e se eu estivesse errada, pagava uma cerveja pra ela, então.

Cheguei até a perguntar pra uma das outras moças, que defendia a posição de apaixonada da amiga, se ela realmente pensava que o tal médico ia largar a esposa, se realmente achava que ele já está separado, que não transa a mulher faz tempo, que leva uma vida solitária e infeliz. Isso tudo na frente da amiga, que olhava com os olhos marejados, tristes comigo. Eu cheguei a cogitar em pedir desculpas. Mas pedir desculpas pelo que penso? Por Deus! Ninguém ali enxergava a lógica do médico cinquentão? Isso é mais velho que andar pra frente!!!!

Nunca fui a dona da verdade, fui questionada, e respondi com muita sinceridade. Acho lastimável pessoas que dizem o que a outra quer ouvir. Fica aparente a falsidade. E, por mais que eu fale o que eu penso, ninguém está dizendo que é o certo, que é pra seguir aquilo. Acabamos seguindo sempre o coração mesmo. Nem adianta o que nos falam, ora essa.

Se em algum momento a amiga falasse que queria curtir o momento, se em algum momento ela dissesse: "ele é maravilhoso, mas sei que ele é casado, e que nunca deixará a esposa", eu ia rir e dizer: "isso mesmo, honey! aproveita o momento!". Mas ela está apaixonada, acreditando em todas as vírgulas do médico, vendo um futuro feliz, onde eles tomariam café da manhã juntos na mansão dele, e enquanto ele trabalharia no consultório, ela passearia no shopping com os filhos dele, enquanto a ex iria pro cabelereiro mudar o visual pra um quiçá novo namorado de vinte anos.

Saí dali me perguntando se estou amarga demais. Tenho ciência que não preciso sair magoando todo mundo. Mas era tanta ilusão na cabeça da menina, que não consegui fazer de conta que nada estava acontecendo. Ou até pior: incentivar aquilo. Depois, tentou me convencer que não está apaixonada, que a palavra certa era 'empolgada', mas cá comigo, não funcionaria mais. Não foram as palavras dela que me assustaram de tanta ingenuidade. Eram os olhos. Esses espelhos d'alma.

De toda forma, acho que essa nunca mais me pede uma opinião.