03 outubro, 2006

Os dias passam, sem quase novidade alguma. Ela até que fugiu um pouco, da forma que pôde, porque a razão -devido à um turbilhão de outros problemas- estava aos berros, anulando o coração. Já havia pensado em tudo que podia sobre ele. Não queria, não pretendia, não era possível pra ela lidar com um romance em potencial problemático; mesmo com tanta sinceridade. Sim, ele havia sido sincero e, conforme ele mesmo, essa era sua única intenção.

Havia notado que, de repente, ele se tornou um homem cobiçado. Eram párar pra conversar 2 minutos, que sempre aparecia alguém. Até mesmo sua amiga parecia tentar seduzi-lo. Ou eram coisas da cabeça apaixonada dela, não saberia definir ao certo. Então, se afastou. Fugia. Decidira priorizar outras coisas, principalmente as provas. Deixara de fazer florzinhas no canto das apostilas. Tinha 4 páginas da agenda para resolver. "Se concentre nisso, então!"

De fato, conseguira envolver-se com a macroeconomia por dias a fio. Chegava mais tarde, uns 15 minutos. Eram sufucientes para não vê-lo na entrada, nem esbarrar com ele pelos corredores. Até o dia que ele ficou esperando-a no estacionamento. Claro que notou sua fuga. Claro que queria explicações.

- Mas te devo explicações? - disse ela sem jeito.

No fundo, no fundo, ela achava que devia sim. No fundo, no fundo, ela amou vê-lo ali, no estacionamento, barrando a entrada do carro. No fundo, no fundo, o coração galopava. E no meio disso tudo, ele a acompanhou, falando, falando, falando.

'Te magoei, eu sei.'
'Mas está me magoando também, saiba.'
'Não foge de mim, porra.'
'Fui sincero, queria o contrário?'
'Dá pra párar de andar e me escutar, por Deus???'

Ela parou. Queria chorar. Sentia as lágrimas ali, nos olhos. Não pisque, pensava. Olhou pra ele e disse que sim, que estava escutando-o. Mas que achava que não queria mais esse problema pra ela. Que havia decidido envolver-se de novo, mas não assim. Queria ser feliz um pouquinho só. E que pra isso, não poderia deixar nada atrapalhar, e um relacionamento escuso não estava nos planos dela. Não saberia lidar com isso. Não queria lidar com isso. Não poderia lidar com isso. Ele a interrompeu, bruscamente, e disse, numa suavidade de arrepiar:

- Você trocou de perfume por quê?

Ele a olhava. As lágrimas dos olhos dela desciam, não teve jeito. Estava mesmo apaixonada por cada poro daquele homem. Em um relance de olhar, ou dois, ela olhava o desenho da boca dele e suspirava. Tão perto e tão longe. Pediu para ir. Não aguentava mais. Pediu para ele não procurá-la mais. Me deixe, pedia. Ele ficou ali, parado. Olhando pra ela, que sumia corredor adentro.