25 setembro, 2006

Eu sei que sou uma mulher cheia de outras mulheres dentro de mim. Sempre comentei isso por aqui. Mas de algumas delas, eu tenho medo. Falo sem pensar, e em consequência disso, as palavras são atiradas ao ar como gumes, e claro que machucam. Muitas vezes, o pedido de desculpas não vêm de imediato, às vezes, nem vêm mesmo.

Acho absurdo as pessoas que pensam que pode fazer o que bem quer, porque existe o pedido de desculpas pra depois. Eu evito pedir desculpas, não que eu não ache válido, óbvio que é; mas tento manter-me de uma forma que eu não tenha que pedir desculpas depois. Evito antes. E isso dá um trabalho tremendo, confesso. Fico sempre na expectativa de agradar e me sinto péssima quando erro, mesmo sabendo que sou falível.

Daí vêm essa mulher, que na maioria do tempo está escondida, e solta uns berros bem dados, dá as costas e sai marchando. Se ela me assusta, imagino o quanto assusta também as pessoas que me rodeiam e vivem a lidar com a mulher decidida, porém doce, meiga.

Aconteceu de novo esses dias. Depois de uma série de desilusões, enganos, confusões na semana; ao pedir uma anistia no trabalho, recebo um não com resposta, sem ter a chance de ao menos conseguir terminar a frase do porquê eu reinvidicava aquilo. Não era à toa, não sou uma desinteressada. Mas nem quiseram escutar. Esbravejaram na minha cara. E a outra apareceu.

Eu tinha me mantido calma até o exato momento que senti gotas de saliva me alcaçarem no grito que levei. Aí, não teve jeito. Limpei meu rosto e disse tudo que eu tinha que dizer, em alto e bom tom, deixando muitos de boca aberta. Inclusive o esbravejador. Porque é muito fácil lidar com pessoas doces, gritar com elas. Agora, grite com quem está gritando com você. Nem todos têm a ginga pra tal. Acostumados a gritar sempre, se acuam perante a revida.

Falei que não estava pedindo nada demais, e que merecia, ao menos, ser ouvida até o fim. Que naquele lugar só tem chefia para coisas banais, ao alcance de um grito, mas na hora que o assunto é barra pesada, os chefes somem e resolvemos tudo sozinhos. E que eu não deixava minhas filhas sozinhas em casa para levar grito de chefe na cara, porque muito ciente da minha capacidade, sei que não é necessário essa posição imperativa. Pedi pra ser escutada, não fui, agora que me escutasse.

Estou cansada de engolir um cacetilhão de sapos por dia e se nem meu pai grita comigo, aquele senhor muito menos. Me devia desculpas, estaria esperando, e se ele não sabe lidar comigo, que aprenda. Porque cansei de manter os ânimos toda vez que há estresse. Cansei de ser as costas largas. Cansei. Já me demiti desse lugar uma vez, nem pestanejo em me demitir de novo. Que pensem nisso. Porque uma em mim faz questão de evitar ter que pedir desculpas, mas essa faz questão de que peçam.