30 outubro, 2006

- Não entendi essa mensagem.
- Hã?
- A mensagem... chegou, não entendi.

Ele esticou o celular à ela, que sentada num degrau, fumava seu cigarro em paz. Leu a mensagem e não entendeu nada também. Não tinha número pra resposta, mas era nitidamente uma mensagem apaixonada. Esticou o celular de volta à ele, com uma pequena [quase mísera] ponta de ciúmes. Passara alguns tantos dias, desde a última vez, quando se despedaçou em lágrimas diante dele e depois fugiu, com vergonha do delito. Dias e dias de silêncio e tortura. Tragou o cigarro lentamente. Soltou a fumaça e viu-a dissipar na escuridão. Olhou-o. Ele aguardava uma resposta, agachado ao lado dela.

- O quê? - ela pergunta, sem saber o que ele esperava dela.
- Não vai decifrar pra mim? - ele estava sorrindo tão bonito, que ela se tocou.
- Não fui eu não. - disse, friamente.

Silêncio. A expressão no rosto dele foi digna de uma foto. O sorriso murchando aos poucos. Ela até conseguiria transformar aquilo em palavras: "Como assim, não foi você?". Era isso a tradução da feição dele. Ainda quieta por um bom tempo, com ele perto dela, tentava imaginar se ele gostaria que fosse dela e por isso a decepção; ou se estava preocupado com o tropeço que acabara de dar, achando que era dela uma mensagem que, definitivamente, não era....

- Não fui eu, juro. - ela falou, depois que jogou a bituca do cigarro ao longe.

Há bastante dias ela acompanhava onde caía a bituca, porque sempre caía com a brasa voltada pra ele. Se não diretamente pra ele, pelo menos em direção da onde ele estaria. Diz a lenda que bituca voltada pra pessoa, ou pra onde está a pessoa, é sinal que ela está pensando em você. Cretinice de adolescência, que voltou a recordar depois que o conheceu. Dessa vez, não foi diferente. O finzinho da brasa o apontava. Ela sorriu.

Ele permanecia ao lado dela, talvez tentando ler seus pensamentos ou entender porque ela sorria pra uma bituca. Levantou-se só na hora que ela levantou. Não havia mais nada para dizer. Era um equívoco, e ele deu uma mancada e tanto. Ela o olhou demoradamente, deu um beijo no rosto dele, olhou novamente aquela expressão, esperou alguma coisa que não veio e, finalmente, voltou pra sala. Assim, em silêncio.