Marcos. Esse era o nome dele, meu primeiro namorado, meu primeiro tudo. Depois de um ano e meio de namoro, eu ainda estava deslumbrada com a minha situação: eu tinha crescido numa família humildíssima, com muita fartura em arroz e feijão, mas eu raramente via uma bandeja de Danoninho, por exemplo. Depois que comecei a namorar, ele me recheava dessas coisinhas: chocolates, iogurtes, lanches... a primeira vez que ele apareceu em casa com uma batata Ruffles, eu chorei de emoção... é sério. Era meu sonho comer um saquinho de batatas, que hoje compro aos quilos aqui em casa, mas na época, minha avó achava que era supérfluo demais, além de muito, muito caro - dizia ela.
Com 17 anos, eu terminei o segundo grau (hoje chamado Ensino Médio) e ele já havia se formado na Faculdade, trabalhando numa metalúrgica desde o início do nosso namoro. Deslumbre também era ter namorado que tinha carro e moto (um Escort e uma XLX, lembro-me), e pra todo lugar que ia, carregava-me como um troféu. Eu me perguntava, várias vezes por dia, o que ele havia visto em mim... ele, até hoje, é muito bonito, chama uma atenção nos lugares que chega, e é extremamente charmoso... Então, quando a gente chegava nos lugares e inevitavelmente havia um comentário maldoso (O que ele tá fazendo com ela?), eu me perguntava: É mesmo, o que ele tá fazendo comigo?
Eu trabalhava como colaboradora, num representante do Jornal Estado de São Paulo, aqui na minha cidade. Estava prestes a entrar na Faculdade, mas nem tentei o vestibular. Optei por um cursinho, onde todo meu dinheirinho suado seria consumido, mensalmente. Eu e o Marcos combinamos que ele me ajudaria. Ele não ganhava super bem, mas ganhava bem, então tá. E foi assim que se foi seguindo nosso relacionamento, até o noivado, de repente...
Era Dia das Mães. A gente tinha se visto pela manhã - continuávamos super grudados. O namoro fazia mais de dois anos. Depois que ele me deixou na minha mãe, porque o almoço familiar (Rá!) seria lá, não nos falaríamos mais naquele dia - seria reservado para o aconchego do lar de cada um, claro. Mas nesse dia, logo pela manhã, fomos a uma floricultura, onde mandamos flores pra nossas mães. No cartão pra minha, mandei por nós dois e, ao preencher o cartão pra dele, fiz o mesmo... Com carinho, Marcos e Claudia.
Normalíssimo, se não fosse o ataque de nervos que a mãe dele teve ao ler aquilo. Segundo relatos, me chamou de prepotente e o escambal. Isso tudo eu fiquei sabendo no anoitecer daquele Domingo festivo, onde o Marcos apareceu em casa de-ses-pe-ra-do, aos prantos, dizendo que não haveria força no mundo que nos separasse. Querendo acalmá-lo, eu tentava explicar que eu não ligava pra isso, que era um ciúmes natural de mãe e tal... foi quando ele me agarrou pelos braços, olhou no fundo dos meus olhos e disse: Casa Comigo?
Depois dessa cena avassaladora digna de novela global, é lógico que disse que sim... No meio da semana, ficamos noivos. A mãe dele me fuzilava, mas nunca me disse nada diretamente (e na minha cabeça, era só porque o Marcos sempre foi muito ligado à ela, natural). A minha família só faltou encomendar toneladas de fogos de artifício e mandar fazer aquelas cascatas, à la ano-novo no RJ. Todo mundo feliz, vamos nos casar, tralálálá.
Mas não era bem assim, nem pensamos em nada. Eu ainda pagava meu cursinho e dependia dele para o resto das coisas. Ele, por sua vez, determinado a não ficar noivo por mais de 6 meses.... e não é que ele conseguiu? Prestei vestibular, passei com um ufa!, e comecei a minha faculdade, finalmente. Enquanto eu me afogava em livros, ele corria atrás de nosso futuro. Viu praticamente tudo sozinho, e eu cada vez mais encantada... ele deixava eu resolvendo os pormenores do vestibular/faculdade, e quando ia me buscar à noitão, estava exausto. Feição cansada, falava pouco, mas não desistiu: queria casar. Muitas vezes, preocupada, eu falei: Por que estamos correndo tanto rumo ao altar? E obtinha como resposta: Porque a mulher da minha vida é você, então pra quê ficar adiando isso?
Sim, senhoras e senhores, eu vivi um conto de fadas. Alugamos uma casinha (edícula) que era um charme. Eu tinha um Chevette na época, que eu vendi para dar alguns meses de aluguel antecipado. Ele foi comprando os móveis e entrochando lá dentro; no fim-de-semana ele arrumava as coisas tudo no lugar. Reformou, pintou, decorou, tudo sozinho.... e só me mostrou, depois de tudo pronto, com cortinas, tapetes, porta-retratos... fizemos uma festa, nós dois, e naquele dia inauguramos a cama que seria nossa, depois de casados.
Somávamos 3 anos juntos, 6 meses de noivado.
Eu, na Faculdade, com 18 anos.
Ele, Engenheiro na G.M, com 23 anos.
Era novembro de 92, e marcamos o casamento para 13/02/93.
Numa próxima cena, eu conto