16 novembro, 2003

Cartas...
Me ocorreu uma coisa triste. Não tenho carta tua. Nada, nem um bilhetinho. Não guardei todos os emails, alguns sim, outros não. Talvez eu até imprima, mas isso é para depois.

Chuva...
Sabe porque eu me lembro de você, não é? Porque houve chuva. Muita chuva. E tua imagem está ligada à ela. Onde quer que eu ande no mundo há de haver chuva.

Beijo...
Depois de um toque desajeitado qualquer, o beijo. Ainda está aqui, fácil enxergar. O beijo cresceu, tomou tudo, dominou o espaço.

Bebida...
Você não bebe nada. Só Coca e água. Impressionada, até agora.

Hall's...
Beijo tem que ter gosto de boca. Então tá, você é quem manda. Não gosto de Hall's mesmo. Ia chupar um, por causa do cigarro, lembra?

Moleque...
Há uma imagem de você, me explicando a minha captura no aeroporto, onde você corria pra lá e pra cá. Não é um insulto. É moleque, no lado bonitinho da coisa...

Invenção...
Perdido na cozinha. Mas que saiu um ovo com qualquer coisa, saiu. Bençãos à Sandra e seu santo empadão...

Metodologia...
Já notou o quanto é metódico? Fiquei por algum tempo olhando tudo invejavelmente empilhadinho, cada um na sua coluna: contas, extratos, anotações... em outra mesa, cadernos da faculdade, livros... ah! E você arrumou a cama também... várias vezes.

Clima...
A palavra clima chega a nem ter conotação negativa. Me lembro de você falar... "não gosto de climas"

Café...
Ninguém toma café. Nem você. Mas sobrevivi.

Dividir...
Foi estranho, percebi. Você nem quis saber de dividir a despesa, quando saímos para almoçar.

Comida...
Até sushi eu comi. E você se acabando com salgadinhos, desses que a gente come em festa de aniversário. Eu ainda cozinho para você. Prometo.

Tricô...
Super 10.
Tu.
Caraca.
Acabamos trocando algumas inutilidades da fala. Mas que um pegou tique do outro, isso, é só conversar e notar.

Enigma...
Há um mistério. Eu chamaria de enigma dos olhos. Havia horas que, sem explicação, teus olhos brilhavam mais. Ficavam translúcidos. Não passavam nada, não correspondiam a mais alegria, mais paixão... nada. Penso que era simplesmente a tua hora de olhar transparente.

Encaixe...
Na hora de dormir o nosso encaixe foi absolutamente perfeito. Sincronizamos os gestos. Dormimos em uma cama estreita sem nos perturbarmos.

Telefone...
Depois de falar, desligávamos. Mas a conexão ficava até o sono chegar. Quando chegava.

Surpresa...
Estou escrevendo esse "inventário" quando me chega um presente... um livro, para a viagem... passo o olho na primeira frase: Se não paramos de ansiar pela companhia de alguém é porque a amamos. Tá. Qual a novidade?

Lua...
Falei da chuva, mas não falei da lua. Havia lua naquela noite de Sábado. Estávamos deliciosamente imorais.

Choro...
Eu chorei. Você enxugou. Me senti panaca. E você disse que eu não era. E enxugou de novo.

Pés...
Basta a referência.

Vibração...
Vou ter muita saudade. Sentir muita falta. Da vibração que eu sentia da tua mão em mim.

Final...
Escrever me deu experiência. Saber quando uma história termina. É intuição, é feeling, instinto. Há um ponto exato além do qual não se pode avançar, sem risco de estragar a trama toda, destruir emoções construídas.

Perverso...
Quando somos imensamente felizes por um tempo, ao romper nos tornamos infinitas vezes mais infelizes.

Eu também...
Não ouvirei mais "eu também"

PS: Ficamos tão tontos, impunes, desafiadores, quando apaixonados. Nada importa, o desconfiômetro quebra. Talvez porque a gente se torne forte e sinta segurança (com toda insegurança) para ousar.

E isso foi mais uma ousadia...
(escrito à mão, ontem, por volta das 3 da madrugada, do lado do telefone que eu acabara de desligar.)