30 agosto, 2004

Talvez por ter crescido praticamente sem uma mãe que me desse colo e com uma avó que nunca também foi ligada nesses imprenscídiveis gestos de carinho, me tornei uma mulher que deseja e necessita, quase que o tempo todo, a aprovação de todos que me rodeiam - e até dos que não me rodeiam, às vezes.

Mas tem mais uma coisa na minha formação que me deixa, por muitas e muitas vezes, com raiva de mim: a carência absoluta de entendimento.

Cresci dando com a testa nas portas da vida, e já caí tão fundo, que me descobri "meio" forte até, mesmo tendo que tantas vezes chorar no banheiro.

Até que me prove o contrário - e esse é o pior caminho - eu acredito nas pessoas e me dôo por completo. Tiro minha blusa, se alguém por perto está com frio. Às vezes, nem preciso conhecer a figura... ofereço mesmo assim.

Não me falem que sou especial. Especial é namorado(a) que a gente larga e vira amigo(a). Se fosse pra eu me definir (coisinha bem difícil), eu diria apenas que não ter tido amor na família, fez com que meu coração quisesse diferente... e me tornei amor por todo mundo.

Isso não tem nada a ver com a criação das minhas meninas, que é um diferencial totalmente à parte....

Lá pelos 20 e tantos anos, já casada e grávida da primeira filha, descobri, da noite pro dia, que por mais mimada que eu tenha sido pelo meu marido (culpado pelos meus desejos imediatistas), a vida só seria do jeito que eu formulei se eu fosse mais "eu, por eu mesma" sempre - tarefa árdua.

E como já diz o ditado: "quer uma coisa bem feita, faça você mesma(o)", corri atrás, anos depois separei-me, com uma criança em cada braço, com uma casa pra cuidar e um trabalho que me consumia a alma....

Ainda assim, com muitos galos na cabeça, segui acreditando em todo mundo, mesmo depois que me provam o contrário, estou lá, do lado, perdoando e dando a mão... vício, esperança, masoquismo, sei lá... sei dizer que mesmo com os tais galos cocorejando em minha testa (das incontáveis vezes que me decepcionei e bati com a cara na porta), segui e sigo assim: confiante.

Falo, sim, eu falo e muito. O que tenho que falar, não mando recados, odeio quem mande... mas também odeio magoar quem gosto. Não sou adepta da hipocrisia, mas com ela tenho dificuldades... evito a pessoa pra não ter que ser hipócrita, e nesse ponto não sou de falar tanto, pra evitar guerras sem fim. E foi numa dessa que me meti, no momento atual da minha vida.

Acreditei mais uma vez e me decepcionei um tanto, que chega a doer. Não daquelas dores palpáveis, mas uma dor que me fez chorar. Não pela pessoa, na qual acreditei piamente, na qual dediquei minhas madrugadas, a qual eu tenho que ver todo santo dia e fazer de conta que sou superior ao que aconteceu e que aquilo nem me abalou tanto assim... Chorei por mim, por ser tola e não aprender nunca.... nunca!

De tantas coisas que tenho saudades, da qual eu mais sinto falta é de grandes amizades. Aquelas, de ir tomar café com bolo à tardezinha e falar mal do marido ou contar as pirralhices das crianças... aquela de confessar o inconfessável, de ir soltando tudo em conta-gotas, até o que você nem sonhara um dia ter feito... e foi assim que se deu: virei assunto.

Hoje quando olho pra pessoa em questão, me desencorajo... é algo tão absurdamente frio, gélido, que balbucio um "Oi", quase inaudível. Na verdade, queria escandalizar, mandar pra puta que o pariu uma pessoa (???) tão insensível, que fez de minhas histórias um altar de fofocas.

Decepção pura, doída, macabra até. Parece muito? Mas não acabou...



E eu, nessa hora, me sentindo "meio" enfraquecida, procurei alguma ajuda, me ferrando mais ainda... Por mais que eu saiba que eu nunca pude contar, nunca eu tive nada além de que as próprias guerras já citadas, procurei minha mãe. Vício, esperança, masoquismo (...).

Ela me escutou, escutou atentamente até. Acreditei que ela me escutou. Acreditei que aquele alívio era real. E qual não foi minha surpresa ao saber que ela endossara cada palavrinha daquela outra boca venenosa, assim que teve a primeira oportunidade? SIM, ela ajudou a dissiminar minha vida por aí. E mais: minha vida mesclada com invenção, calúnia, mentiras descabidas enroladas em alguma porcentagem de verdade, virando uma bola de neve infinita.

Da minha mãe, fiquei sabendo ontem. Da amiga que eu achava que tinha (porra, eu comprei até medicação pra filha dela doente!), a história veio à tona antes mesmo de eu viajar...

Na minha cabeça - teoria que espalho por aí afora - a melhor coisa a se fazer é deixar falar até cansar e assim, morrer de inanição. Mas, mesmo sendo a favor desse processo, deitar no travesseiro e dormir tranquila é quase que impossível. Ontem só consegui com a ajuda de remédios... nada bom, nada.

Conversei com o Lu, meu fiel escudeiro, falando sozinha praticamente. Precisava FALAR. É complicado saber que a tua mãe, a tua própria mãe, quer puxar teu tapete desde que você se descobriu por gente... é complicado porque todo mundo tem uma mãe que ama o filho, ou a filha, ou quem quer que seja da família. É aterrorizante concluir que minha mãe é minha pior inimiga... Doeu ler? Imagina saber, sentir, conviver com isso.

É complicado também ter que matar um leão por dia e ainda ter que fazer voz bonita no telefone com aquela que você mais quer longe de você.... E é isso que eu desejo profundamente: minha mãe bem longe de mim.... Não me condenem por isso, só se sabe de uma vida, quem nela está vivendo...

Em 30 anos, já tentei de tudo. Absolutamente de tudo.
E disso eu nem tenho saudades... porque nem sei o que é realmente ter uma mãe.

Isso, eu nunca soube.
Não dá pra ter saudades do que não se sabe.

Estou do tamanho de um grão de areia... e perdida, por completo.
Mas passa.

Se quer fazer algo por mim, ore, seja qual for o nome que você der ao teu deus... ou então envie dúzias de chocolate... porque se eu não brincar um pouco com isso tudo, choro em cima do teclado, sem dar tempo de correr pro banheiro...

Agradeço.
E fico por aqui.