25 março, 2003

No fim de semana passado, quando o avô das meninas veio buscá-las, trouxe com ele um "sobrinho" meu, que eu não via desde minha separação. Ele, o Guilherme, é filho de meu ex-cunhado, se é que existe isso, porque eu trato todos de lá como se ainda fossem minha família também (com exceção de meu ex-marido, que dispensou terminantemente essa relação...). Enfim, o Gui está um moço. Me assustei ao vê-lo e escutar um 'oi, tia' quase sussurrado, numa voz em mutação. Eu não tenho certeza absoluta da idade dele, acho que está com uns 13 anos... o que me lembro é quando comecei a namorar o meu ex, o Gui era apenas um bebê, aprendendo a dar os primeiros passos. Me senti velha na hora (!) e disse isso à ele, que riu, novamente muito sem graça.

Comecei contando tudo isso por outro motivo... Hoje, ao esperar minha filha mais velha sair da escola - e é sempre a última sala a sair, não sei porque cargas d'água- desejei no fundo de meu coração que o tempo parasse por uns 5 ou 6 anos para a Rafaela e para a Raquel. Saída de escola é geralmente tumultuada por mães aglomeradas na porta e por busca de vaga dos que estão de carro. Eu, como sempre, fico quieta esperando a pimpolha dentro do meu, sempre me ocupando de leituras ou cutículas ou cachos dos cabelos. Mas hoje parei o carro do lado um grupinho de "aborrescentes" e inevitavelmente escutei a conversa delas. (Eu juro!). Estão na quinta-série pelo que eu entendi... e o papo vocês devem imaginar.... 'O professor Roger é gatuuu demaiiiiis. Sabe o que ele falou pra mim ontem? Que sou uma revelação de aluna! Me desmanchei toda' (!!!!!) 'E o Thiaguinhu, vocês viram?' 'Aiiiiiiii, ele é fofo. Dei meu telefone pra ele' (ufa, ainda bem que foi o telefone...) 'Sabe a festa da Tica, no sábado? Beijei mooooito'. Santo protetor das crianças, o que que é isso? Não é difícil calcular a idade dessas garotas... Quinta série = 11 anos!!! Tudo bem, eu sei o que vocês estão pensando... mas tenho que confessar: aquilo tudo estava sendo horrível para mim ! Era como se eu estivesse ouvindo premonições... Apesar de ter casado cedo pacas, com 11 anos eu brincava de boneca, minha gente... e hoje as garotas beijam 'mooooito'. Quando a Rafa entrou no carro ela até se assustou com minha feição, e eu, erroneamente, perguntei:

'Filhota, quando você arrumar um namoradinho, você me conta? (já esculhambei... chamei o futuro namorado de inho) ...
'Nossa, mamãe... só tenho 9 anos.' (ainda bem que ela tem noção)...
'Conta ou não?' - eu, desesperada, já. ...
'Lógico mamãe. Conto tudo pra você.' ... (alívio, mesmo com uma promessa sem documento em cartório nem firma reconhecida)

Mas posso acreditar nela e isso me rendeu um suspiro... Agora, a Raquel são outros 500. Ela já é muito mais liberal e cheia de personalidade. Falo que vou amarrá-la no pé da cama e ela ri. Mas só tem 6 anos incompletos. Tô até vendo. Vai ser difícil. Quando eu participava involuntariamente do papinho cor-de-rosa das garotas, enxergava minhas filhas, tal qual aqueles episódios na televisão onde os olhos saem da órbita e esbugalham para fora. Só de imaginar, tremo nas bases. Meu sexto sentido clama para que o tempo estacione 5 ou 6 anos para minhas filhas. Eu não ligo, tô chegando aos 30 e tô adorando. Ao mesmo tempo, tô realizando a cena:

Portão de casa:
- Rafaeeeeeela.
Dentro de casa, do quarto:
- Mamãe, é o Juninho, diz pra ele que já vou... tô terminando de me aprontar... mas vê lááá hein, não vai dar mancada.
Porta:
- Entra, Juninho. A Rafa tá quase pronta.
- Não, eu espero aqui mesmo, Dona.
(argh! Dona? Sic!!!!)
- Entra, menino.... como é que vou questionar você aqui fora, no portão? Já pra dentro, anda!
(e rezar para que a Rafa esteja enrolada com qual cor de batom vai passar....)


Socorro!