23 março, 2003

Ela se chama Dorvalina.

Há um tempo já, eu estava querendo falar dessa senhora de 82 anos e uma pessoa extraordinariamente fincada nos primórdios do tempo, que é minha avó. O convívio com ela é bem difícil, assim como praticamente todo idoso. Restou-lhe pouquíssima audição, presente da idade avançada, mas é tão birrenta que se recusa terminantemente a usar o aparelho auditivo. É teimosa como uma criança de 3 anos. Se ela diz que o verde é azul, concorde pelaamordeDeus. Ela tem o dom de conseguir tirar qualquer um do bom humor com as idéias dela... fomos aconselhados a deixá-la contar somente, dando-nos o direito de ficar caladinhos, porque senão é confusão na certa. Ela continua falando, falando, falando e qualquer ser humano sai do sério. Porque se o verde é azul, então o verde é azul, vovó... a senhora está certa mais uma vez. Hipocondríaca nata. lembro-me de uma vez, almoço do Dia das Mães, família reunida... Eu era nova ainda, devia ter uns 13 anos... e minha avó: - "Ontem quase morri... passei mal a noite inteira... vi a morte na minha frente". E eu, sentada no sofá... - "Desde que me conheço por gente a senhora 'quase morreu'." Isso está gravado num vídeo... Quando dá aquelas fases 'recordar é viver', todo mundo olha na minha cara por causa dessa frase tão inocente (e verdadeira). Todo dia ela tem uma doença. E todo dia ela não está bem. Nunca -nunca mesmo- escutei minha avó falar que estava bem. "Tudo bem vovó?" ... "Que nada... meu braço (perna, barriga, costas, joelho, dedos, estômago, fígado, olhos, ouvido) dói muito hoje". Eu não sei da onde ela tirou a idéia que damos mais atenção à ela qdo está no papel de vítima. Pelo que minha mãe conta, ela sempre foi forte - e ainda é muito- e nunca a viu reclamando tanto como nos últimos tempos. Já perdeu uma filha (há 16 anos), o marido (há 10 anos), a irmã (há 9 anos) e um filho (há 8 anos)...e brinco com ela que ainda vai ver a Rafa -minha filha, de 9 anos- casar. Penso que o que realmente faz mal à ela é a auto-medicação. Para tudo ela toma remédio. Antes do banho, um comprimidinho para não se resfriar. Depois do banho, gotinhas de um analgésico, para não ter febre. Isso é diário! E não tem quem consiga proibí-la. Já chegamos ao ponto de esconder os remédios da casa... e ela caiu em depressão. Ela é diabética, e acha que é a pior doença do mundo. Quando digo que ela tira do sério: minha tia (filha dela) tem uma amiga que o câncer está tomando conta e resta somente um fio de força de vontade na moça para prosseguir, apesar de todo tratamento necessário... enfim, minha tia estava contando para a minha avó o caso... explicando o tratamento, dizendo que a amiga está sem cabelos porque a radioterapia acaba com tudo... vira a minha avó - que estava aparentando entender tudo- e diz: -"E eu, com essa diabete que está me matando aos poucos? Meu sofrimento ninguém vê!" É aí que a paciência nem aparece e saem chutando o balde de raiva... Ainda lembro de minha tia, aos prantos, falando "Minha amiga morrendo e ela preocupada com a diabete dela!". Ela nunca sofreu como acha que sofre.. nunca precisou de uma internação, nem de remédios fortes e desde quando descobriu que era diabética, sempre se cuidou. Adora plantas, na casa dela tem vários canteiros, onde ela mesmo abaixa na terra, cuida, rega. Acho que é mais bem disposta do que eu mesma! Só que ela não quer que a gente acredite nisso e arruma briga todo santo dia. Agora a parte divertida da coisa se resume na surdez... resolvi escrever sobre ela hoje porque ela se superou ontem: por não entender bulhufas do que se passa na TV, ela consegue emendar uma coisa na outra e assim vai...consegue formar notícias hilariantes. Uma vez, foi me buscar na varanda da casa dela, para que eu pudesse entender melhor a 'notícia': um sequestrador havia deixado a refém -uma menina- num lago e um helicóptero estava vindo resgatá-la... e era em Barueri, ela tinha certeza, pq ouviu o moço (?!?!) falar... Quando olhei para o que ela estava assistindo, nada mais era que um filme do Arnold Shwazzenegger... caí na risada...desculpa, mas é impossível não rir. Expliquei: -"É um filme vovó... não é notícia" ... -"Lógico que é. Eu vi, é em Barueri" .... "Tá bom, vovó. Tá bom..." - eu estava em paz, não ia discutir. Essa enrolação de notícias espirituosas é praticamente diários também... e ontem, como estava contando, ela bateu todos os recordes: estávamos em família (passo lá todos os dias vê-la) na sala assistindo filme, quando ela chega e solta a pérola do ano: Saddam Russein estava no Vaticano e o Papa estava abençoando os dois filhos do ditador. (explosão de gargalhadas... ninguém aguentou)

Agora diz: posso? Não, não posso. Mas que arranca boas risadas, ahhh...isso arranca.
Te amo, vovó.


Desabafos da Polly Mattos | às 11:45 AM


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Blás

Bom dia pra você também...

Acho que ontem o Blogger resolveu tirar férias. Tirar um descanso. E deixar todo mundo louco da vida. Os blogs em que passei, todos postaram praticamente a mesma coisa e tiraram uma conclusão, no mínimo, excessiva: deve ser a guerra. O que aconteceu e que todo mundo já sabe é que ninguém conseguiu coisa nenhuma nesse Blogger, deixando almas furiosas e o Fórum lotado de reclamação. Eu, por minha vez, tentei o dia inteiro, e vi minha página por vários ângulos diferentes... só a sereia, só os posts, só os links, a sereia e os links, só os quadros azuis, enfim... acabei desistindo por volta das 20h, onde acabei direcionando toda minha atenção à outra coisa, que foi muito bom por sinal. Em compensação, tive uma noite agitada, não consegui dormir, acordei com dores no corpo - e não é nada disso que você está pensando. Agitada mesmo, acordava assustada... lembro-me de uma hora que joguei o edredon longe, e quando notei, estava sentada na cama com dores nas pernas - que me tiraram o restinho de sossego que me restava. Como hoje é um daqueles típicos domingo-chato-de-coisa-nenhuma-para-se-fazer, conectei cedo. Já fucei, fucei, fucei... e estou maravilhada com a velocidade disso tudo... que maravilha. Já estava com saudades.

A propósito

Na verdade, não tem propósito nenhum, nem tem nada a ver com o Blogger e suas crises existenciais...
Não é porque sou uma mulher balzaquiana, linda, com tudo certinho (já exagerando), meiga, simpática, comunicativa, educada, esperta, de fino trato (ai, Deus castiga), de família e com pouquíssima modéstia que não tenho do direito de colocar aqui no meu roxinho, a minha felicidade exacerbada de meu time ter sido vencedor. Não sou fanática nem tampouco morrerei se não assistir um jogo. Gosto de finais. E ontem, apesar do tumulto inicial de virilidade 'jogadorística' atingida por uns e por outros, o que importa mesmo é que gritei Gol por três lindas vezes. E qualquer comentário mesquinho que aconteça ao meu post de torcedora-nem-um-pouco-fanática, será intriga da oposição.

Viu só, nem coloquei Corinthians.... hehe. [[ Vai ver que não precisa ]]....

Desabafos da Polly Mattos | às 10:30 AM