03 março, 2003
É assustador como as coisas mudam de repente, e da água pro vinho. Hoje, não quero nem mais pisar num local que tenha qualquer vestígio de passistas, bateria e um embromado de gente. Espera, exagerei... Se eu tiver opções para não ir, com certeza, preferirei assistir um filme em casa. Não sou totalmente avessa ao carnaval, porém não sou mais de toda a favor. Lembro-me perfeitamente o quanto eu fazia, o quanto eu desobedecia (palavra que hoje as crianças ignoram...), o quanto eu aprontava para poder ir nas matinês. E não tinha como me dizer não...esbravejava, chorava, fugia e ia. Isso foi até meus 18 anos, acho. Ia no salão, ia na avenida (cidade pequena, carnaval pequeno)... Não parava até a quarta feira de cinzas, onde minha vó OBRIGAVA-ME a ir na missa "tomar cinzas" pra que Deus me perdoasse dos pecados do Carnaval (!?). Que eu me lembro, fui uma vez na tal missa, onde o padre joga um punhado de cinzas em cima da cabeça, e o cabelo fica um ó. Hoje, e hoje mesmo, segunda-feira, prestei atenção ao que eu sentia. Tenho um probleminha enoooorme com as pessoas que amo muito: faço de tudo pra não contrariá-las... Devido a isso (e um pouco de curiosidade também) decidimos ir na avenida ontem, assistir ao desfile das escolas daqui. Avenida lo-ta-da... pessoas de A a Z... Pensei: moro a uma quadra, qualquer coisa, vou embora. A maioria deles, é a galerinha do boné, em busca de um carinho da turminha da mini-saia. E deparava com isso a avenida toda (subimos até a concentração, depois voltamos para assistir a escola desfilar) . Quando nos encaixamos num espaço previlegiado pra assistir (na rua mesmo, no chão... arquibancada pra quê? eu não ia aguentar ficar lá muito mesmo...), juntou-se uma turma bem na nossa frente e ali ficou... foi uma das vezes que perguntei o que eu estava fazendo ali... Porém, valeu... mesmo com um esforço tremendo (gente suada encostando em mim, criançada jogando "neve em spray" em qualquer um que passava e uma dor de cabeça que insistia em continuar comigo). Assistimos a duas escolas... Tudo muito, mas muito humilde... Mas, como disse o Lu: "humilde, porém, de coração, senti isso". A parte que nunca na minha vou esquecer foi a do desespero de uma garotinha de no máximo 5 anos, que se viu num "buraco" imenso entre um carro alegórico e a bateria... foi quando ela olhou para um lado, olhou para o outro, e começou a rebolar, a la Globeleza. Só tinha ela, só deu ela... e quanto mais as pessoas aplaudiam, mais ela rebolava... e ficou ali, segurando a onda da escola, até a bateria se aproximar e se desfazer o espaço que ficou... Clap, clap, clap... parabéns, mocinha. Só que definitivamente, não tenho mais o Quê que eu tinha antes... Carnaval, sim... mas na TV, com narração de Chico Pinheiro e Renata Ceribelli... enquanto eu, deitada no sofá, bem acompanhada, assisto até pegar no sono.