06 dezembro, 2006

Pode me levar ao cinema, mas não coma pipoca com a mão toda, que além de lambuzar a palma da mão com aquela manteiga toda, acaba com meu humor ter que ficar olhando a cena deprimente de uma mão abrindo na frente da boca para todas pipocas entrarem de uma vez.

Podemos ir ao McDonalds, mas não coma um bigmac em quatro mordidas, nem coloque catchup em tudo desse jeito, que, na boa, me enoja. Comemos coisas com catchup, não catchup com coisas. Mesma regra pra pizza, batata-frita, pastel. E, por caridade, o canudinho do refrigerante vai pro lixo depois, não é pra sair mastigando-o.

Se a história for num shopping, por Deus, não estacione numa arara de roupas com a cara mais desanimada do mundo. Isso me deixa frustrada e todos meus desejos consumistas vão por água abaixo. Funciona para economizar, mas faz mal para o ego. Não quer ir, não vá, simplesmente, que serei mais feliz sozinha: eu e minhas sacolas.

Vamos sair? Se arrume mais, peço. Não sou eu que tenho que tirar o salto alto para colocar havaianas e bemuda. Evite toucas, camisetões, bandanas. Use seu estilo com os seus. Comigo, não.

Não acorde da cama e vá pro sofá, não protele suas obrigações para a última hora do dia, não seque o combustível do carro, não beba todo dia. Não ache que sexo é a solução para qualquer problema diário, não faça bobagens e depois venha me pedindo beijo, não me ligue o dia inteiro que enche o saco, não largue sua camisa na poltrona da sala, não jogue tanto pôquer enquanto estiver comigo.

Leia mais livros, coma menos carboidrato, não coma tanta gordura pela manhã, caminhe, discuta política comigo, entenda algumas siglas para que a conversa comercial flua, use palavras mais difíceis, queira aprender, esqueça 80% das suas gírias, elas me entontecem... afinal, não sou obrigada a saber o que significa 'entrar no 0-800' ou 'à vera' ou 'à pampa'.

Se dedique. Pense no que quer, no que realmente quer, e veja se vale a pena. E se valer, batalhe. Mude. É pra melhor. Mas não se esqueça: não atendo por 'nêga' e sou completamente diferente de tudo que já possa ter passado pelas tuas vistas. Sou complicada, chata, implicante, exigente, mas garanto o lado bom.

Não me faça passar vergonha diante dos meus amigos, não ande com gingado, ande perfumado sempre, não fale nem ria com a boca cheia, não fique procurando preços mais baratos no supermercado, use suas melhores roupas até pra ir na padaria, jogue o resto fora. Não se alimente tão depressa, use do romantismo quando estiver ao meu lado, não se sente jogado desse jeito.

Sexo, pra mim, é consequência de um dia bom. Nada de posições mirabolantes, não à filmes do Buttman, voto pela criatividade sem antecedentes: vá do ardente e forte ao suave e macio. Tudo numa mesma trepada. Me beije enquanto mete, fale algumas coisas, essa é a hora ideal, mas nada que vá me esfriar. Xoxotinha nem pensar. Aliás, nada no diminutivo, obrigada. Me surpreenda.

Me beije, mas não me coma pela boca. Não julgue que sabe beijar: estamos sempre aprendendo. Por exemplo: eu aprendi com você que salivar demais atrapalha e dá enjôo. Ao mesmo tempo, a delicadeza e maciez da tua língua é fascinante. Viu? Também sei elogiar. Mas as críticas afloram muito mais que os elogios, e obviamente isso seria mais do que um motivo para eu nem insistir.

Tenho um preço alto, a vida ensinou assim. À essa altura do campeonato, precisa-se sim do que você pode me oferecer, mas vive-se bem também sem nada disso. Cansei de ser o que pretendem que eu seja, me viro melhor na posição de comandante, longe de mim subordinação, nem por amor mais. Passe pelos testes e me conquiste. Se for muito pra você, saia, que continuarei minha vida como se você nem tivesse entrado. Mas sei que vai permanecer. Tenho certeza disso. Até ver quão grande erro, sair de fininho e gritar: "Próximo".

Mas [a sua sorte é que] sou teimosa.