12 dezembro, 2006

- Sabe o que eu fiquei sabendo?
- Hum?
- Que você andou espalhando por aí sobre a gente. Mas acho que as quatro pessoas que vieram me dar um toque estão enganadas. Claro que não! - eu disse à elas. Você é tão discreto, não é nenhum moleque, não seria capaz de tal absurdo.
- ...
- Defendi você. Disse que você tem quase 40 anos, que você não era dessas coisas, imagina. Fofoqueiro agora? Não admito que falem assim de você. Inclusive quando falaram da minha insatisfação com a fulana e meu consequente afastamento dela, disseram que era ciúmes. Que absurdo, não? E mais: disseram que foi você que contou, que foi você que disse que eu estava com ciúmes de você com ela.
- ...
- Mas é claro que você nunca diria uma coisa dessas, porque sabe que eu me indispus com a fulana por causa do patamar de um status imaginável dela; ou mais claramente, porque ela come mortadela e arrota caviar. Por isso me afastei dela. Mas você sabia disso.
- ...
- Achei o fim, sabe? Colocar-nos em bocas de fifis. Fiquei passada quando a primeira pessoa me falou. A história soou com tanto ego, credo. Depois vieram mais três, todas iniciando com o mesmo tipo de frase: "Deixa eu te dar um toque, teu nome tá rolando...." Fiquei até sem chão. Mas te defendi, te garanto.
- ...
- O pior foi dizerem que tudo partiu de você! Justo de você! Um homem comprometido, que tem muito mais a esconder do que eu. Enfim, bando de fofoqueiras, não? Ainda que tivesse rolado uma grande história, ainda vai. mas nem aconteceu muita coisa. Eu confundi tudo, você dispersou nesse meio tempo, e pelo bem geral da nação, nos mantivemos meio afastados, até hoje, nesse churrasco de confraternização.
- ... ... ...
- Realmente. Eu também achei o fim.
- ...
- Vai dizer nada não?
- ...
- É o que eu esperava mesmo.

Ela saiu de perto dele e quando deu-se conta, ele não estava mais lá. Provavelmente desmaterializou-se na própria vergonha. Deu um grande gole na Boehmia e sentou-se com as amigas, que contavam piadas de homens.