Em off.
*quietinha, ali, no cantinho, pensando na vida, lendo uns livros, só*
Como é que pode ter gente que gosta de horário de verão? É, eu sei. Assim como tem gente que acha um absurdo eu falar isso, ou pior: tem gente que gosta do próprio verão.
[blergh.]
Ficou abestada de como a diferença de uma simples horinha interfere no meu trabalho, no meu sono, no que como, e no meu humor, que bem da verdade, não é bom nem em horário normal mais.
Esses dias atrás, estava junto de um grupo de colegas, quando chegou uma fulaninha perguntando se todas topavam fazer um trabalho x. Eu, com toda minha santa educação de colégio interno, respondi, seca: Não tou a fim não. [afinal, já tenho nota, já tou bem e não preciso mais de nada]
A mesma pergunta foi feita para as outras, que momentos antes tinham comentado comigo que também não queriam, coisa chata essa e tal. E nem tinha sido eu que tinha abordado o assunto! Foi só a fulaninha perguntar, que todas mudaram de idéia. Para colocar mais lenha, incrementei:
- Só eu sou a chata aqui?
Claro que fui muito irônica, mas todas riram, e uma delas (que tinha a-ca-ba-do de dizer que também não ia fazer, porque já tinha fechado a grade) até me disse, para o meu pesar:
- É, então. Só você. Mas te entendo.
Não precisa muito pra me entender mesmo. De velho sei que tenho também uma dificuldade tremenda de dizer não. Mas hipócrita também não sou. Daí, concluindo que não sou a única chata e, sim, a única sincera, digo que tudo é culpa desse maledito horário de verão, que derrete meus neurônios, dissolvendo-os à milk-shake. Culpa do sistema, ponto.
Teve uma outra, que não tem ligação nenhuma com isso, mas me lembrei disso agora, onde uma 'mais amiguinha' disse pra um moço, assim, na minha frente:
- Ela é ótima! [ela=eu] Mas tem momentos que a amo. E momentos que a odeio.
Depois do choque, olhei pra ela e disse:
- Claro, claro. Você me ama quando seguro tuas ondas brabas. E me odeia quando eu falo exatamente o que penso. Completamente compreensível.
Essa mesma garota, que é toda indisciplinada e irresponsável, ficou sem luz porque não pagou. Conseguiu fugir do corte por meses à fio, até o dia que chegou no prédio e descobriu que não só estava sem luz como também já nem relógio tinha mais - cortaram e levaram tudo.
Na mesma semana, ainda sem luz no apê, a vi comprando um perfume da Natura. Coisa de uns 80 reais. Em um comentário solto, ela reclamou que estava sem almoçar, e alguém brincou: - Vai viver de luz agora?Ela me olha e ri fazendo piadinha pra mim, associando à realidade dela: - Nem de luz! Né?
Eu, sem pestanejar, retruquei:
- É, agora ela vai viver de perfume.
Porra, devo ser chata mesmo. Eu nem ligaria, na verdade, se não tivesse (entre outras tantas) que comprar uns cinco litros de leite pra ela, porque a filha estava tomando nescau com água. Mas depois que já me enfiei na coisa, me acho no direito de dar uns 'acorda, nêga'.
E o horário de verão me deixa pior ainda. Aguarde com fé e confie. Todos comigo: amém.
Eu poderia dizer que hoje eu passei o dia dentro do PoupaTempo. Na verdade, passei o dia no shopping (o PoupaTempo fica dentro de um) e umas duas horas especificamente dentro dele.
Fiquei admirada da organização daquilo. Tá, já fui em PoupaTempo uma dezena de vezes, mas só hoje que precisei ficar tempo suficiente para admirar o que passarei a chamar de 'Eficiência das Senhas'.
Descobre-se o setor onde trata do seu problema na primeira fila, no Balcão de Informações, e lá pega-se a segunda fila para a primeira senha. Confirma novamente o que lhe foi perguntado no Balcão de Informações, e espera ser chamado a primeira senha. São um cacetilhão de painéis, mas algum anjo ou força interior te manda sentar exatamente onde piscará sua senhazinha. Uns bancos de igreja, madeira, compriiiiiidos, nem dá pra reclamar. Ok, tem revistas. Todas velhas, tais como no consultório do dentista. Mas nem pego nenhuma, passo realmente a admirar toda aquela parafernalha.
Gentes de todos os tipos, tamanhos, jeitos, cores. Famílias inteiras, e eu fiquei me perguntando o por quê de se levar a família toda pra tirar uma segunda via de alguma coisa. Vai ver que alguém encara aquilo como passeio, sabe-se lá. Apita o número em dos painéis e lá vão pai, mãe e três filhos. Apita outro e lá vai um motoqueiro sem tirar o capacete da cabeça. Outro, vai a moça de vestido longo. Te juro, caras. De cetim.
A tal força interior me indicou o painel direitinho, pois eu estava bem na frente dele quando meu número apitou. Era minha senha do dia todo, mas eu nem imaginava, achei que ia pegar muitos papeizinhos ainda, e enlouquecer depois em busca deles na minha bolsa. Mas não. Eu não tinha mais nome. Esqueçam-me. Tratem-me de 8050 a partir de agora. É a 'Eficiência das Senhas', estou te falando.
Lá vou eu para a primeira mesa. Responde tudo de novo. Chega a ser inacreditável, mas enfim. Uma hora, a moça digitou lá 8050 e todos meu dados apareceram na tela. Eita, Eficiência. Voltei a ter nome, por um mísero momento. Além de outros números também: CIC, RG, data de nascimento. Devolve a senha, senta em frente ao outro setor, e espera ser chamado novamente para pagar as taxas. Números, números.
Essa hora demorou. Demorou porque eu estava lá aguardadno. Porque depois que eu consegui finalmente pagar as benditas, notei que eram chamados 5 senhas por vez e num piscar de olhos, umas 50 pessoas tinham sido atendidas. Era assim, um moço, o rei das piscadinhas, porque pra todo mundo ele piscava, chamava no microfone (acho que eles não gostam de painéis...) as cinco senhas seguidas: 8046, 8047, 8048, 8049 e eu. Depois disso, eu que já aguardava em uma outra fila, notei que ele já chamava 8100 em diante. E tinha se passado pouquíssimo tempo. Ou eu perdi alguma piscadela dele, ou é realmente rápido e achei que demorou.
Aí que o Chico chorou. Porque naquele vai e vem, minha papelada já estava tudo em ordem. Ou eu aguardava QUATRO horas pra pegar o documento, ou mandava pelo sedex daqui uma semana. De primeiro momento, eu quis sedex. Mas depois desisti, ora: eu estava dentro de um SHOPPING, pessoas. E entre a força consumista e voltar a trabalhar, eu prefiri a força consumista, crarus cróvis. Podia colocar a culpa toda no sistema.
Quando saí confiante em busca do que fazer, percebi que hoje era dia de cinema por dois reais. Puxa puxa, alguém lá em cima gosta muito de mim. Passei os olhos pelos filmes brazucas, vi que um tava começando naquele instante, estiquei dois contos pra bilheteira e entrei numa sessão que só deu eu e mais uma moça lá. Eu podia escolher onde sentar e mudar de lugar todas as vezes que eu quisesse mudar. Eu podia deitar no banco e dormir, se me conviesse. Eu podia sentar lá no gargarejo e gritar "Hútererê". Eu podia tudo numa sala vazia. Mas sou menina de blog azul e sentei-me comportadinha - e ri deveras. "Se eu fosse você" - recomendo.
Quando eu voltei lá pro PoupaTempo, eu já tinha devorado uma quiche e tomado uns dois litros de coca. Tinham se passado umas três horas, mas a força interior me disse para eu dar uma olhadinha, vai que, né. E voilá, saí documentada de novo, feliz, alegre, contente, saltitante, dando pulinhos e gritinhos na escada rolante.
Não me lembro da última vez que um dia foi tão redondinho assim, principalmente quando envolve burocracia. E mesmo com um sol duzinfernos, peguei a estrada de volta cantando Gigi D'Agostino bem altão.
Mas da "Eficiência das Senhas" eu nunca mais esquecerei.
Sou fã de ER. Vejo todo santo dia, em algum horário que der, e tenho a sensação de que são pessoas que fazem parte da minha vida. Fico manca se perco algum dia, mesmo que reprise e pela duzentésima vez.
Dia 9/11 começa a 13ª temporada, onde finalmente saberei se a Abby perdeu o bebê ou não - entre outras coisas mais. Acho que a personalidade montada para o Dr. Carter a coisa mais fofa do mundo e bem perto do homem ideal ao meu ver - sem relação à ele ser milionário, com relação à ele ser milionário e completamente desprendido à isso.
Atualmente, ando muito chateada com a Abby nas reprises, que não nota o amor do Carter por ela - e que acaba nos braços e grávida de Luka, temporadas depois, muito mais cretinão e complicado que Carter. Muito mais bonito também... rs. Aliás, o amor de Carter é sempre extremo, uma doçura de se ver. Quando ele se envolve com a médiquinha Kem (tamanho meu desprezo por ela), eu passava mal até. O amor dele por ela era absurdamente superior à tudo, inclusive à ela mesma - fato comprovadíssimo quando eles perdem o bebê e ela não aguenta a pressão e volta pra África, se negando a ficar com ele ou até mesmo à ida dele com ela - sim, porque ele larga tudo por todos. Na atual reprise, onde ele ainda namora a Abby, ele deixa as férias dele (tinha acabado de chegar na praia!) porque o irmão dela some e a mãe dela não é de muita ajuda - os dois são bipolares, e Abby lida muito mal com isso tudo, liga pro Carter, que volta ajudá-la.
O que me fez escrever esse post são os detalhes. Porque assistindo tanto e tanto, sou também uma personagem lá e eles são personagens aqui na minha vida também. Nunca gostei tanto de uma série como gosto dessa. Então noto umas coisas loucas como o fato da Sam (enfermeira) ter carro, mas a Drª Corday (cirurgiã) vai embora de trem. Tanto em ER quanto em Greys Anatomy (que não consigo me apaixonar, Cau...) um negro se relaciona com uma japonesa.
Em ER, já assisti episódios de marcarem a alma, como no dia que o já falecido Dr Romano se humilha para o diretor do hospital para continuar na sua função (já deteriorada pelo fato de perder o braço num acidente com helicóptero e não se adaptar ao braço mecânico) e da paixão dele pela Drª Corday. O dia que Dr Mark (marido de Corday) morre vencido pelo tumor no cérebro, e Carter lê o fax enviado por ela anunciando o falecimento à todos presentes no plantão. A luta de Carter pra Kem aceitar o filho, já morto; e depois a aceitação de novos relacionamentos depois da partida dela. Os episódios na África com Luka, Pratt e Carter. O aborto espontâneo da Drª Kerry (lésbica) casada com uma paramédica, que temporadas depois tenta a gravidez e consegue, mas também morre, deixando Kerry numa guerra em busca da guarda do bebê contra os pais da parceira. A morte de Gallant na guerra (soldado-médico), marido de Neela. Sem contar com todos os casos especiais dos pacientes, com o fracasso no tratamento de uns e vitória em outros.
Ontem reprisou o episódio onde um paciente com câncer nos testículos é obrigado pela mãe a párar a quimioterapia e receber alta do hospital. Como lhe resta pouco tempo, mesmo com a quimio, ele aceita, porque o câncer está espalhando-se rapidamente. Esperando pelo táxi para ir embora, conversa com a Drª Susan, e conta que tem desejos idiotas antes de morrer, como se embebedar, namorar, casar, ter filhos, fazer windsurf. Comovida, Susan diz que windsurf é loucura, mas que ela poderia ajudar numa outra coisa. Dispensa o táxi e o leva para um parque de diversões, onde acabam se beijando na roda-gigante.
Se um dia ER acabar, ou um dia eu tiver que cancelar de vez a tevê paga, ou se eu nunca mesmo conseguir comprar as temporadas, vou sofrer um bocado de saudades de todas essas histórias. Ah, vou.