Imagem dela.
Texto dele.
Desejo meu.
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Das taras dela....
E um dia o telefone dela parou de funcionar. Assim, do nada. Mudo, mudinho. Ela procurou a Telefônica, que acabou aconselhando ela verificar se primeiro não era um "problema interno", já que eles, lá da Telefôncia, resolvem só problemas do poste em diante. Pois bem.
Procura daqui, procura dali, comenta com três ou quatro pessoas, e acaba sabendo de um técnico (ex-funcionário da dita empresa de telefonia) bom e barato. O nome que chega até ela é meio estranho: Pão. Não era nome, ela pensou, claro. Ela liga e marca uma hora para o Pão vir verificar o problema.
No dia e hora marcados, ele chega. Nos primeiros segundos, ela pensa, bem lá no íntimo mesmo, o porquê da gíria para homens bonitos no tempo da mãe dela era Pão. "Mas Fulano é um pão de homem". Não sabia (e nunca viria a saber, porque nunca teria a cara de pau pra perguntar) se apelido+pensamento tinha alguma ligação. Mas o Pão era um pão de homem.
Ela abre o portão, explica onde é a fiação do telefone, mas nem olha tanto pra ele mais. É tímida demais pra isso. Pra isso, reafirmo. Ela se retira e deixa o Pão a ver fios vermelhos, azuis, caixinhas, e afins. Vai lá pro fundo da casa. E trata de se atarefar. Não deu 10 minutos, ele pede um aparelho - de telefone- para teste. Ela entrega e confirma o quanto os olhos dele são mesmo verdes e bem bonitos.
Dessa vez, não tinha como voltar a se atarefar. O Pão pede que ela vá com ele, a fim de entender o que se passa nos tantos fios. Ela vai, e repara o quanto o corpo dele é mesmo bonito e bem gostoso. Ele segue falando, fios, fios, fios, ligações, caixinhas, quantos aparelhos, extensões, blás e blás, e ela repara o quanto a voz dele é aguda e bem bonita.
Perdida em notá-lo e prestar atenção ao tão remoto assunto de telefone (porque mesmo ele insistia tanto em falar de telefones? - ela tinha até se esquecido), ele se vira e sorri pra ela. Aí ela percebe o principal: o aparelho ortodôntico. O sorriso dele estava emoldurado em belas cerquinhas.
Ela nem sabe o porque e nem da onde ela tirou isso, mas ela tem um quê, uma força, meio magnética, como se de repente os lábios dela fossem imãs mesmo... ela só sabe que ela tem fascínio por homens com aparelhos ortodônticos. Não é qualquer homem com aparelho... e também não é qualquer aparelho. Precisa ser O HOMEM com O APARELHO.
E Pão atendia a todas as expectativas momentâneas da mente insana dela. Ficou talvez por minutos, ali, admirando-o. Ninguém precisava entender a loucura dela. Ninguém, em absoluto, pode questionar a loucura dela. Pois cada um com sua loucura. A dela estabilizou-se ali, naquele sorriso emoldurado de cerquinhas metálicas. E assim, quase que num despertar de um sonho bom, ela voltou o olhar para o verde olhar dele e entendeu que o problema do telefone era mesmo no poste.
Caramba, o telefone... é mesmo.
Pão não iria cobrar um serviço que a Telefônica faria gratuítamente. Ela achou que se ele não falasse isso com tanta sinceridade, ela pagaria pelo serviço sem nem lembrar que realmente a Telefônica faria-o garatuítamente. E ele se foi, com todo o metálico pertencente ao sorriso dele. E ela ficou, indagando-se se ela inclinou para mais perto da boca dele, naquele momento, ou não. Nunca se lembraria ao certo. Lábios de imã os dela, com toda certeza.