16 maio, 2004

Domingo à tarde sempre bate um desânimo enorme. É a dominguite atacando. Ela é super comum na maioria dos mortais - e não só naqueles condenados à TV aberta. O mistério que cerca esse mal me intriga.

Primeiro pensei que a causa fosse aquele famoso almoço em família aos domingos, mas acho que não é isso. É dose agüentar o pessoal, tudo bem, só que a comida raramente decepciona, e o encontro acaba no zero a zero. Falta de sono também não é, pelo menos não no meu caso. Só funciono no domingo depois das 13h. Até abro os olhos ao meio dia, mas não sirvo para muita coisa por mais uns sessenta minutos. Foi quando me ocorreu que a dominguite podia ser maior do que os meus hábitos. Afinal, acomete também gente que leva uma vida saudável e regrada. Resolvi continuar minhas investigações em outros cantos.

Descobri que tem até estudos acadêmicos dedicados à dominguite. Para alguns sociólogos ela acontece porque nos sentimos sozinhos, desligados do mundo. Mas não sempre. Só nos fins de tarde dominicais, caprichosamente. É o tipo de explicação que só podia ser de sociólogo mesmo, gente que não tem lugar no mundo nem durante o horário comercial.

Foi em uma segunda-feira, parado na marginal, que tive o estalo. Não foi, assim, um pensamento genial. De repente é até pior do que a historinha dos sociólogos, mas vamos lá. O problema é mesmo aquele que todo mundo sempre teve na ponta da língua: depois do domingo vem a segunda. E na segunda, como se sabe, temos que reassumir o nosso posto no grande esquema das coisas. Assim, a grande causa da dominguite não é a falta de lugar no mundo, mas justamente o assento cativo nele. E a nossa, por algum motivo, nunca é a cadeira que a gente queria.

Existem desvios, como os workaholics. Eles são os que acharam o seu lugar e gostaram dele. Esses caras não tem dominguite, até porque domingo não existe na semana deles. O resto do mundo não tem essa sorte. A gente odeia o nosso lugar e toda segunda amaldiçoa o Destino, que nos deu um lugar bem atrás do pilar. Mais do que isso: a gente tem certeza que todo lugar é atrás de algum pilar. Quando alguém se pega nesse pensamento, é certeza: sofre de dominguite crônica. Nesses casos, toda noite é noite de domingo, e toda manhã é manhã de segunda-feira. Paz, nunca mais.

Ainda não se sabe se há caminho de volta para os crônicos. Talvez uma peregrinação funcionasse. Ou fugir com o circo. Para quem passou dos 20, a atitude mais madura seria enfrentar alguns anos de divã. Mas nada me tira da cabeça que a melhor opção é trocar de lugar com um desavisado qualquer. Um sociólogo, por exemplo.

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Uma Contábil também, Paulo Coelho.
Pode ter cerrrrrtezaaaaaaaa.
:D