10 maio, 2006

Passado o tempo necessário, volto pra geringonça que sempre me dá torcicolo depois. Tipo, depois de uma semana, aindo lembro que lavei os cabelos naquilo, saca? Lavados, hora de cortar.

Mede daqui, dali, de lá, pergunta 23956347828012899q848²³ se tem certeza, e, finalmente, a primeira tesourada. Então, melhor puxar papo para passar melhor o tempo:

- Você quer o efeito do cabelo da Vitória, né? - ela me pergunta.
- Queria o corte mesmo.
- É um cabelo completamente desconectado.
- Sei.
- digo, como se soubesse mesmo.
- Vai ficar bacana.
- Vai sim.

E mechas enormes de meu cabelo vão indo pro chão. Chega na franja.

- Como quer a franja?
- Como o da Vitória.
- dããããããããã
- Precisaria ser maior aqui um pouco... - ela diz, erguendo minha franja de lado.
- O que vc sugere? - desisto.
- Repicar aqui, emoldurar o rosto.....
- Tá, pode fazer....
- alguém que diz 'emoldurar o rosto' num salão de beleza deve saber o que está falando......

Terminado o corte, gosto do resultado, isso porque faltava a escova ainda. Percebo que ela é meio atrapalhada com o secador: põe no vão das pernas, pendura pelo fio no pescoço, encaixa ele na mesinha, tudo com ele ligado..... Mas a escova vai tomando forma e vou gostando.

Nessa hora, entra o Clayton no salão. Quem é o Clayton? Um aspirante à príncipe encantado, que não entra em cena enquanto mocinhas tem toucas laminadas na cabeça. Fazia uns 5 anos (ou mais) que não o via. Olha pra jovem senhoura e diz:

- Tá aqui o DVD.
- Ah, tá
- ela responde.

Com os cabelos sendo puxados pela escova, olho pra ele pelo espelho e ensaio um sorriso. Eu e o Clayton tivemos algumas histórias picantes uns meses depois que me separei. Digamos que ele me ensinou umas lições que eu não conhecia e que é o responsável e tutor pela minha maior 'loucura' no quesito sexo, até hoje. Beirando os quarenta, ele continua charmosão, bonito. Ele sorri de volta:

- Oi, moça. Dando um trato aí?
- Né?

Que babaca. Nem soube o que responder. O 'né' saiu engasgado e sem graça nenhuma. Ele saiu do salão e sumiu. Eu não podia falar nada, nem sabia qual era o causo ali. Silêncio depois, sendo quebrado somente pelo barulho do secador. Aproveitando o ensejo, mergulhei no passado obscuro de meu ser, recordando-me até do gosto do beijo, da pegada, do corpo, do carinho, do....

- Você conhece o Clayton? - a jovem senhoura me pergunta, interrompendo meus pensamentos.

[Continua...]