15 março, 2007

[bonequinho batendo a cabeça na parede]

Depois de uma conversa com o meu amigo-analista-assexuado no MSN, tomei 3 goles de coragem e convidei o moço pra um papinho mais reservado. E pam!, ele aceitou. Daí pronto, a hora se arrastou, minhas mãos gelaram, me arrependi 5 centésimos de vezes, mas sou brasileira e não desisto nunca manti o convite. Aplausos, por favor.

Criatividade zero:
'sabe o posto de polícia na ponte?'
'umhum'
'me espera lá'

Ok, eu sei, coisa de adolescente de 14 anos. Mas a mámiga está de olho e embora eu não deva nada pra ela, odeio essa pressão de 'vamos ver quem pode mais', ainda mais ela pesando 10 quilos a menos que eu e tendo um poder manipulador invejável e deprimente, assim, ao mesmo tempo.

Pra ajudar, na hora de ir embora, tem um carro que desconheço fechando minha passagem, onde peço para o tio da portaria localizar, e era de (a esposa de) um dos chefes, que ainda, ao invés de tirar a jupiroca duma vez, me pára para fazer perguntas idiotas, tipo se o meu carro tem o hábito de morrer muito, e sobre uns papéis perdidos há milênios, se eu achei. Acho que fui grossa até, mas eu estava de encontro marcado no posto policial (que muito criativo MESMO ¬¬) e ele já tinha ido há séculos antes de mim.

Saí da vaga bloqueada, e me pára uma moça de lá que muito mal conheço, pra pedir uma carona até ali, na avenida. Que porra, entra logo. Eu acho que eu estava tremilicando já de ansiedade, remorso, raiva da carona e dúvidas. Deixo a moça muito perto do local combinado e pá! avisto o moço.

Alívio. Mas lembre-se do título desse post.

Dou a volta, um retorno idiota que inventaram, e nunca demorou tanto. Odeio aquele retorno. Demora umas duas horas pra fazer, cheguei à posterior conclusão. Muito meigamente, abaixo o vidro e sussuro um 'vem'. Pronto, claro, sua tonta: muito obviamente ele pensou que você iria estuprá-lo, ou coisa bem do tipo.

Tento lembrar algumas frases de filme, seriado e afins, até que decido ser eu mesma, enquanto confiro a moto vindo atrás de mim. Orelha de Rapha queimando, a esta altura. Claro. Tenho que culpar alguém, entenda.

Ok, ok. Brilho nos lábios, cabelo em ordem, ajeita esse decote, Pollyanna. Mais umas duas olhadinhas no retrovisor, pra garantir. E ele, lá, tentando decifrar o enigma da louca que convida pra se encontrar no posto policial e depois sussura um 'vêm' sei lá pra onde.

Tudo muito rápido: deixo o carro em frente o estacionamento e esclareço o que quero esclarecer. Você é formada em duas faculdades, mestrada e concluindo o MBA, não é possível que não saiba dizer meia dúzia de insinuações. Veste o sorriso mais bonito e vai lá duma vez, cazzo.

Embiquei o carro na garagem, ele parou logo atrás.

- Você mora aí?
- Sim, moro num estacionamento.

Dãrdi também, né? Tudo bem que dá um certo nervoso mútuo nessa hora sinistra, mas a pergunta foi mais pra idiota do que para nervosa.

- Moro ali - aponto a casa. Mas vou falar contigo aqui mesmo.

Pára tudo. Meninas em casa, nem pensar, ora essa. E o que eu tinha pra falar era muito rápido: 'você é lindo, tou super a fim, na sua casa, que horas?'.

- Então fala.
- er... gasp.
- ...
- Então.
- ???
- *suspiros longos*
- Fala, tou aqui.
- É, eu sei. Obrigada por ter vindo.

Ô-ow. QUE PORRA É ESSA DE OBRIGADA POR TER VINDO? Meu Deus, você já foi melhor nisso. Pensa, pensa. Você até ensaiou essa meleca toda.

Silêncio. Olho pro chão inúmeras vezes.

- Se arrependeu de ter chamado?
- Não! É que...
- ...
- ...
- Que?
- Que eu sou uma pata. Esquece isso. Esquece que te chamei, que tou pagando esse mico, que esqueci qualquer coisa coerente que eu poderia te dizer.
- !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!???????????????????
- Até amanhã.
- Como assim, até amanhã?
- Até amanhã do verbo que burra que sou.
- Você não é burra!
- Sou sim. Agora vai.
- Mesmo?
- Mesmo.

Que mesmo? QUE MESMO? Acho que você está da cor do arco-íris. Manda embora porque perdeu a coragem. Quem te viu, quem te vê.

E claro que ele foi, sem entender picas, porque eu devia estar com uma feição péssima. Agora, insônia. E mil coisas que poderiam ser ditas me passam na cabeça sem nenhum esforço. Mais importante ainda: mil coisas que poderiam ser FEITAS e não foram. Definitivamente, eu não vou pro céu.

[bonequinho batendo a cabeça na parede ao cubo]