16 fevereiro, 2007

Embora eu tenha preparo para tal, eu não tenho muita paciência para lidar com lerdices e dificuldades persistentes, portanto não é minha praia dar aulas. Mas como meu trabalho está indo por ralo abaixo a cada dia que passa e sem sinal de sobrevivência, eu sabia que se eu procurasse por aula$$$, encontraria, e foi o que aconteceu.

Recebi duas propostas: uma do cursinho Anglo, pra vestibulandos e outra de uma faculdade aqui da cidade, e nem tive sombra de dúvidas em aceitar a faculdade,porque de aborrescente e anjolescente basta a Rafa em minha vida.

Lá fui eu, no primeiro dia, encarar a boiada. Eu nunca dei aulas, efetivamente falando, de pegar uma turma e terminá-la, nunca tive que reter um aluno, nunca passei por um conselho, nada disso. Mas já participei de muita assessoria, dei (junto de uma equipe) muita palestra, e isso sim, é minha praia.

Ensinar é uma arte muito complicada. Digo ensinar mesmo, da pessoa gravar aquilo pra toda vida. Ensinar nas coxas é outra história, e definitivamente, não é a minha história. Se me sujeito a tal, que seja bem feito. É o que me proponho, é o que gosto que façam comigo, então, obviamente, é o que eu faço.

Aí que começam as confusões. Porque incrivelmente a sala é lotada de gente que tá a fim de diploma, não de aprender. E pra essas pessoas, as aulas nas coxas são super bem-vindas, porque não precisam se preocupar tanto, já que o próprio ensinador não está a fim. Por saber disso, já entrando na sala 'sinto' o clima e quem não está a fim, peço muito gentilmente para que vá dar um rolé, fumar um cigarro, tomar um café, jogar no celular, bater uma punheta, à escolher.

Mas não me levam a sério. Lógico que não falo o lance da punheta, mas falo de boa, que se estão cansados porque trabalharam o dia todo e ainda tem que encarar essas aulas chatas -como se eu tivesse dormido o dia todo e ido 100% para dá-las- que saiam, e voltem na aula legal mais próxima. O que não tenho paciência é ter que ficar falando por cima, pedindo atenção, um pouco de silêncio para que eu não precise gritar, essas coisas básicas.

E como o mundo é levado no berro, se eu peço gentilmente pra ficar na sala só quem está a fim ( e juro que não é pressão, é verdade literal!!!) não acreditam. Pensam que vou sacanear na próxima pisada de bola e permanecem lá me olhando de resgueio, se é que essa palavra existe.

Ontem saiu um, disse que ia fumar, mas perguntou umas tantas vezes se era de boa mesmo. E eu, ainda calma, respondo, sorrio, olho nos olhos, digo: pode ir, querido. Ainda explico com voz de lady que depois copiem pelo menos a matéria e arquem com as consequências, claro. Mas consequências de uma aula não assistida, ponto: não coloco falta,não marco o aluno, não faço macumba, pode relaxar. Eu não vou fazer nada além de dar aula pra quem tem interesse, ponto de novo: 'vocês me ajudam e eu ajudo quem quer ser ajudado'.

E juro que é verdade. Não tem sadismo. Mas esse povo parece que não entende que ficando lá enchendo minhas latas, aí sim, a conversa pode ser outra. Porque lerdices e dificuldades persistentes me tiram da órbita. E não sair da sala pra ficar torrando paciência alheia é burrice ao cubo, vamos combinar.

Vamos ver no que vai dar isso.
E dá-lhe Dorflex.