10 novembro, 2005

23h de ontem, meu telefone toca. Atendo, preguiçosa, já de pijama.

- Vêm logo, que teu irmão tá mal.

Putis, de novo. Troquei de roupa às pressas, e fui.

Meu irmão mais velho, solteirão. Tem asma e as crises são bem brabas. Lembro que a pior delas foi quando eu o achei caído no chão da cozinha, todo vermelho, tremendo. Sei lá de onde arranquei forças naquele dia, porque ele é bem gordo.

A pior até hoje/ontem. O que vi essa noite inteira, me fez tremer nas bases. Quando cheguei na casa da minha avó [ele mora com ela], ele estava no portão. Abri a porta do carro, e notei ele muito vermelho, gemendo de dor.

Não perguntei nada e ele balbuciou algo, que desencadeou uma tosse insana. Mandei, com toda minha sutileza, calar a boca. Fiz vários 'cariocas' no trânsito. Achei até que uma viatura ia acabar atrás de mim. Entrei na contra-mão por quatro vezes, subi canteiro pra cortar caminho, andei a 120km e o hospital permanecia longe. Enfim, qdo mais se precisa, mais difícil fica.

Qdo encostei o carro, ele desceu correndo na minha frente. Saí correndo atrás, gritando o nome dele e me perguntando porque sair daquele jeito, correndo. Quando finalmente consegui entrar no hospital, ainda consegui ver ele desfalecer no chão, tremendo inteirinho. Gritei.

'ele precisa de uma inalação urgente' - é o que eu lembro ter dito.

Sou fraca pra essas coisas. Sou uma merda, dizer bem a verdade. Começo a ficar muito nervosa, não ajudo em nada, caio no choro. Quando vi que ele tinha sido levado pra dentro, pensei no desespero que o fez sair correndo do carro daquele jeito...

Sentei no hall do hospital, onde tinha uma TV ligada. Olhava pra ela, pensava em todo o resto que estava acontecendo. O médico, uns 40 minutos depois, quebrou meu prostrar:

- é a primeira vez que ele tem isso?

Respondo que não. Já tinha levado outros sustos desses. Sou questionada se a falta de ar acompanha vômito. Bem, só ele pra dizer, mas já vi ele vomitando sim, nas crises. E que aquela 'queimação' no peito acontecia direto também. E o médico enruga a testa e fala:

- são sintomas de infarto.

Caí sentada no sofá. Não pela surpresa. Mas, porque eu já esperava por isso. Meu irmão não fuma, nunca fumou, bebe raramente, mas sempre foi gordo. Tem todas as doenças respiratórias, respira mal à beça, anda com duas bombinhas, já sofreu choque anafilático durante uma cirurgia de apêndice.... Sempre cogitei a hipótese, mas nunca verbalizei isso. Nunca chamei a doença. Enfim....

O desfecho disso tudo ainda não se deu. Cheguei em casa faz uma hora mais ou menos. Não preguei o olho. Fiz um café, tá aqui na minha frente. A Rafa acaba de acordar e me dar 'bom dia'. Ela nem sabe que o tio está no hospital ainda. Nem sei se vou contar agora. Eles se amam profundamente....

Vou leva-la ao colégio e de lá volto pra dormir, pra ver se consigo ir trabalhar à tarde. SE eu for trabalhar.

Me ama? Me gosta? Sabe rezar? Então, comecem. Por favor.