02 fevereiro, 2005

Eu tive, no domingo passado, uma das maiores emoções da minha vida, de embargar a voz e tudo. Fui no shopping, coisa que era pra ser bem simples e rápida, durou umas três horas, devida uma chuva torrencial e assustadora que começou bem na hora em que eu já havia pago o cartão do estacionamento, e estava saindo em direção ao carro.

Como não dirijo na chuva, quando posso evitar, entrei de novo. Fiquei zanzando pra lá e pra cá, e a chuva caindo. Para se ter uma noção, por uns 40 minutos, o shopping todo ficou nas luzes de emergência, o que acarretou um grande furor, já que os alarmes das lojas não funcionam e fica aquele clima de que vai acontecer algum desastre.

Quando a luz voltou, decidi ir no méqui, já que a chuva não dava uma trégua mesmo. E foi lá o acontecido. Sentadinha num canto solitário, eu e minhas batatas, reconheci um rosto que sentava à mesa ao lado. Caramba, não tinha mudado nada, só estava mais grisalha. Mas achei que nunca seria reconhecida. Talvez até fosse, mas não assim. E eu estava olhando-a, quando ela sorriu pra mim e disse:

- Conheço esse rosto.
- Tudo bom, professora? - respondi à minha professora da 1ª série, Dona Ana.
- Comigo tudo, Claudia*. E contigo?

Aí minha voz deu nó, os olhos lacrimejaram, senti as pernas molinhas, parecia criança de novo. Ela lembrara meu nome. Não. Você nunca terá noção do que é isso. Minha primeira professora, a que me alfabetizou. Passou tudo num flash na minha frente - o que sou hoje, a longa caminhada pra ser o que sou, pra estar onde estou. E associar tudo isso à emoção in-des-cri-tí-vel de minha primeira professora (sim, porque não fiz pré) lembrar o meu nome.

Gaguejei, ela notou minha emoção e emendou alguma coisa de 'prazer em rever você' e 'tem alunos que a gente nunca esquece'. Respondi que a satisfação era toda minha, que tudo de bom acontecesse à ela, que foi muito bom aquele encontro, de repente, 23 anos depois.

Porque é muito mais fácil um aluno lembrar do professor, mas professor saber o nome de um aluno tantos anos depois, ah, isso comove mesmo, de verdade. A chuva passou, e eu fiquei lá ainda, com os meus pensamentos. Devo ter saído de lá rumo ao estacionamento com um sorriso nos lábios.

Por causa desse fato, redescobri em mim muitos valores que eu mesma já esquecera. Sei lá bem porque e nem importa muito, mas OBRIGADA, DEUS. Só Ele mesmo pra me fazer uma dessas.

Feliz, aqui.

(*todo mundo já sabia meu nome, não?)

...

E por falar em professor, hoje é aniversário do meu amigo-maníaco-obsessivo-compulsivo-maliducado-carioca-sumido. , tudo de sempre muito bom, doido. Cê bem sabe, né? Então.