11 janeiro, 2005

Com a vida que ela tem, com tudo que ela já aprendeu, não poderia ser diferente. Ela só não dizia que havia experimentado de um tudo ainda, porque as possibilidades da vida sempre se renovam. Mas ela, com toda a certeza do mundo, havia experimentado bastante. Então, que de uns anos para cá, ela havia decidido que certas posturas deviam ser tomadas, a seu favor, claro.

E foi então que ela percebeu, muito da inteligente, que a vida é para ser vivida, curtida e gozada - literalmente. Não deixar nada para depois - nada que a fará feliz para depois - tornou-se o top das regras dela. Sim, porque ela sempre foi muito regrada, até mesmo quando ela se tornava imoral. Deu um basta nas consequências e partiu para ser feliz. E é lógico que relações amorosas e sexuais estavam presentes no esquema que ela tinha se auto-proposto. Na verdade, é onde ela encontraria mais alegrias, ao seu ver.

Despida de toda denominação que poderiam vesti-la, nua de qualquer interrogação que poderia intervir, ela seguiu. Mas nunca poderia imaginar que aqueles seres do sexo oposto seriam tão arredios diante sua nova aquisição de vida. Sim, porque os homens não podem com mulheres decididas. Eles têm medo e se acovardam. Eles tendem a entender tudo errado e a tomar decisões contrárias do que estaria sendo deliciosamente convidado. Se ela investisse um mínimo, o pretendente já saía pro canto, achando que ela estava apaixonada. Pronto, ela teria que rever certos conceitos.

As frases eram completamente distorcidas... Um "a gente conversa" era entendido como "quero casar com você" e já vinham cortes do tipo "estou a fim de ficar sozinho" ou até mesmo "sou novo ainda para me amarrar". Cortes? Da onde tirou isso? Eram tremendos foras que ela tomava, sem entender tanto e a deixando sempre em dúvidas se explodia em gargalhadas ou se virava as costas e saía andando. É, porque nem a mais santa das paciências, aguenta aquilo sempre.

Uma vez, ela estava mesmo a fim. Muito a fim. A vontade brotou do nada, no meio de uma conversa mais íntima. Curiosidades afloravam junto com os desejos mais insólitos possíveis. Cogitou alguma coisa. Cogitou várias coisas. E na liberdade que ela tinha para esses assuntos, ela declamou e explicitou tudo o que passava na cabeça dela, jurando que ele, sim, ele entederia. Mas não foi diferente. E ali não adiantava explicar mais nada. Porque para homens assim, explicação não adianta, definitivamente. A coisa mais próxima que ela chegou a conseguir definir foi que, se de repente ela apresentasse os bons amigos dela ao sujeito, somente pelo fato de combinarem uns com os outros, ele juraria que ela estaria com alguma aliança de ouro escondida na bolsa para logo depois.

Mesmo morrendo de vontade, ela não explicou muito. Digo 'muito', porque ela ainda se explicou. Mas já sabia que não ia dar em nada. Porém, continua sutilmente investindo. E torcendo para que a carapuça sirva de uma vez. Porque não é possível que na altura desse campeonato que ela está, ela tenha que ensinar em be-a-bá que a vida está aí para ser vivida, oras. Ela continuará nas mesmas atitudes, talvez um pouco mais blasé. Só que depois disso, ela está mais para "não quer, tem quem quer" do que para qualquer outra coisa.

Com a fome que ela tem de vida, mal sabem eles o que andam perdendo, coitados. Eles, que adoram terminar com o que nem começou, para sentirem-se mais protegidos, blarg. Eles, coitados, que sabem tão pouco da vida e juram que vivem. Por Deus, que eles possam enxergá-la, uma vez, pelo menos.