Entro em casa e vejo um envelope de sedex em cima da mesa. Logo vejo o remetente e me espanto. Como direi? Não conheço o moço. Não tem blog. Não sei como ele é. Sei que simplesmente existe, por um comentário aqui no blog e alguns emails 'musicais'.
Abro o sedex. Um livro. Com uma capa chamativa. Passa quatrocentas e cinquenta e dez coisas na minha cabeça, todas em, no máximo, cinco segundos.
Abro o livro. Dedicatória. "Parabéns pelos dois anos de blog". Sorri. Caramba. Nunca imaginei receber um presente por causa de minhas sandices. Fecho-o novamente. Uma capa muito chamativa, realmente. Um tanto quanto insolente, eu diria. Lembro-me de todos meus princípios em não julgar nada pela aparência, quem dirá uma capa de livro. E ali, sentada no sofá, começo a leitura.
"Nunca soube dizer "não", o que me botou em muita encrenca. Queria ter dito "não" a muita gente, mas não disse. Não sabia. Sempre fui doce e bem intencionada. E, mais do que isso, punha o sentimento e o desejo dos outros acima do meu, como se fosse inconcebível a idéia de frustar, ferir ou rejeitar uma pessoa"
Uau. Esse é um dos primeiros parágrafos do livro. Fico 'assim'. Se eu tivesse lido essa frase em qualquer lugar senão no livro, acreditaria piamente de tê-la escrito. Me aconchego no sofá, pondo as pernas pra cima, dobradas. Ajeito os óculos... sigo a leitura.
"Às vezes, falávamos sobre os detalhes da separação, sobre coisas do tipo quem ficaria com a empregada, como faríamos nas festas de fim de ano e o que diríamos às meninas quando a separação finalmente se concretizasse. Alice estava, na época, com pouco menos de quatro anos, e Sofia, ainda bebê, tinha pouco mais de um ano e meio..."
A não ser que seja moda separar-se com filhos nessa idade, essa é um mega coincidência. E, eureca, claro que ele me enviou o livro pelas milhares de outras coincidências que existem entre mim e a Kika. Kika Salvi, repórter conhecida das revistas femininas e que eu já lia alguns textos, mas nunca soube do livro. Livro com uma feminérrima e ousada capa rosa, cheio de histórias deliciosas.
Ali, naquele instante, segui a leitura até a página 77, sem respirar. Infelizmente o mundo não pára, para mergulharmos em nossas leituras. E sigo devagarinho, degustando (literalmente) cada ponto do livro e parando pra pensar em tantos outros "como é igual".
Enfim, é infinitamente bom ganhar presentes. Mas é deveras melhor ganhar um presente tão 'a gente'. Ainda mais de alguém tão misterioso como o remetente... Obrigada pela massagem no ego e por apresentar-me a história da Kika. Pouca gente acerta assim e se presta a tal. Obrigada mesmo.