05 setembro, 2006

Um frio, de congelar os ossos. Ela, com o rosto escondido no cachecol, procurava pelo reitor desde a hora que chegou, em vão. Olha pras mãos com unhas por fazer, e pensa como anda desleixada. Há dias, não consegue concentrar uma só idéia, há dias anda no automático. E enfiada até o nariz dentro do cachecol, se encolhe num canto pra ler, pra passar o tempo que falta pra última aula, quando...

- Tem alguém atrás do cachecol?
- Oiiii.

Ela faz que vai levantar, mas ele se senta ao lado dela. Calafrios percorrem a espinha, de tão perto que ele está. De repente, nem frio está mais. E os calafrios persistem em passear do quadril às mãos. Ela perdera a noção de o quanto isso é bom.

- Estava bom o bolo?
- Uma delícia. Me esbaldei.
- Que bom que gostou.
- Que bom que lembrou de mim.

Aqui, ela tenta sorrir, mas nota que um sorriso já está tatuado no rosto dela, desde quando ele surgiu. Assim, naturalmente. E só sai do rosto quando ele se vai. Nem requer forças, nem habilidades. Instantâneo. Chegou, sorriu.

- Difícil lembrar, porque nunca esqueço - ele finalmente conclui.

Ela olha demoradamente para os olhos dele, brilhantes e, pela primeira vez, a comunicação do silêncio impera. Em qualquer filme romântico, essa era a hora propícia do beijo. Mas na vida real, ali, bastou o olhar para entender todo o resto. Ela levanta, com a ajuda dele, e o sorriso continua estampado, em ambos os rostos.

- Temos que ir - o silêncio se rompeu, mas a magia é inquebrantável.
- É.....

.....

Quando ela está na metade da ala dela, escuta seu nome e vira. É ele, de novo.

- OK, vou ser direto.
- OK.
- Quem dá o telefone primeiro? Você ou eu?