21 julho, 2006

Tem dias que eu nem lembro disso, nem tou nem aí, porque não lembro mesmo; mas tem dias, feito hoje assim, que sonho com isso, que acordo chorando por causa disso, que fico pra baixo por isso, e que carrego, o dia todo, a tortura de que é conviver com isso.

Que isso?

Já comentei aqui que meu ex-marido pediu investigação da paternidade da nossa filha mais nova. Nem eu lembrava que já fazia tanto tempo. Pois. Daí que no início desse ano, ele reaparece, me liga, 'pede' as meninas, que quer vê-las. Desconfio, meu lado maternal grita, peço pra ligar depois, ligo pra minha advogada e descubro o que eu já imaginava: 'não pode negar, se for o dia e a hora da visita dele, não pode negar'.

Tá que daí o mundo se revoltou quanto à isso, quanto à essa impotência de não poder negar a visita de um cara que há anos -eu disse ANOS- não aparecia, não ligava, nem sei onde mora -e isso não é figura de linguagem-, pede investigação de paternidade, gasto grana com advogada pra contestar o pedido -e que justiça lenta, meu Deus- e depois liga, na maior cara de mogno, dizendo que quer passear com as meninas e eu tenho que deixar.

Não sei se postei isso também, ou se só metaforizei a coisa, mas acontece que nesse dia, onde o pai passeou com as meninas, ele ne verdade, levou a Raquel numa clínica particular e fez o exame de DNA. Quando as meninas já estavam voltando pra casa, pelas mãos do avô, pai dele, é que ele me ligou e contou. Na hora, a reação foi mais ou menos assim: você é muito baixo, Marcos. Mas, enfim, só gastou dinheiro pra provar o que eu não tenho a menor dúvida. Quando sair o resultado, me liga.

Ele disse 15 dias, mas nunca mais ligou. E sumiu. Todo mês ele tem que mandar um comprovante do convênio delas, e desde então (fevereiro) não mandou mais também. Em contrapartida, os avós, acho que com vergonha, raramente têm ligado, perante minha frieza inerente à mim, já que são pais dele, e mesmo que não tenham absolutamente nada a ver com isso, não consigo mais ser 'a legal', 'complascente', 'a madre tereza'.

Esse sumiço me incomoda. Não o sumiço, mas a falta de notícias, porque sem vê-lo mesmo, continuo há anos. Nesse dia do 'passeio', ele buscou-as na casa do pai. Enfim. É tanto silêncio que, às vezes, penso: 'será que não é filha dele?', mas pra isso ela teria que ser concebida pelo Espírito Santo, porque não existiu outro. Nunca. A Raquel tem olhos azuis, feito o pai dele. Daí fico nessa tortura.

A pensão das meninas -aquele fundo irrisório, que mal paga o colégio- continua caindo normalmente. Conversas com amigas advogadas e com a minha própria advogada, esclareceram que por mais que dê que a Raquel é filha, o exame feito por ele não pode entrar num processo judicial, já que tem somente 2 sangues (o dele e o dela), e a Raquel podia não ser até mesmo minha filha, nesses casos de bebês trocados e tal. Ele estava tão mal informado, porque se ele colocasse o sangue da Rafa no meio, já serviria. Ele estava com a Rafa lá, junto. Mas nem sabia, acredito eu.

Resumo da ópera, o processo tá correndo ainda, sem nenhuma informação também. Pelas contas já fazem 7 ou 8 meses, e demora mesmo, dizem. E ele pode aparecer com o exame (esse, do particular) afirmando que a Raquel é filha dele - e é mesmo-, que o exame do judicial irá acontecer, com os 3 sangues. Tem um monte de sujeira ainda no meio, que a advogada contestou, mas precisamos esperar. Enfim.

E tem dias que isso me vêm doído, cheio de mágoa e profunda tristeza. Não devia, eu sei, eu sei. Mas vêm. Já tive conversas e discussões homéricas com as meninas, explicando que nunca mais elas podem deixar o pai fazer algo, qualquer que seja, com elas. Que elas têm que bater o pé, pedir pra ligar pra mim, ter certeza da permissão. Isso incomoda também. Porque eu devia ter explicado isso antes, mas nunca pude imaginar a pequenez daquele ser, que um dia fomos felizes e hoje é tão, tão.... pequeno.

Sei lá. Hoje o dia não vai ser legal.