08 julho, 2006

Daí que a pessoa te liga na pior hora. E não importa o que esse pior signifique. Pode ter sido um dia ruim, ou você está comendo (ou sendo comida, rs), ou simplesmeste você não tá a fim sem motivo nenhum. Não quer falar. Ponto. Daí você pede pra atenderem e dizer que você tá ocupada. Que tá no banho. Que saiu. Que tá cochilando. Inventa alguma coisa aí.

Mas isso é uma mentira. Uma mentirinha, vai. Das mais brancas. Das mais pequeninas. Mas é uma mentira. Pequena, mas mentira. Você mentiu e arderá no mármore do inferno. Não, não, foi só uma mentirinha leve. Das bobas. Uma questão de vontade. Você não quis falar com a pessoa e foi educada a ponto de não falar isso na cara dela, ora essa. Educação revestida de mentirinha. Desencana.

Só que a pessoa que ajudou a você mentir é uma criança a ser moldada. E te questionou sobre isso. E te deixou sem graça, porque você ensinou que mentira é feio, que papai do céu não gosta e que você também não. Então, como assim, você pede pra ela mentir? Ela não pode mentir. É feio. Você ensinou.

Daí que você tenta explicar as ramificações adultas da mentira. Da mentira, da mentirinha, do mentirão. Que essas divisões e subdivisões da mentira em si é complicado, porque tem que discernir com a moral, com a ética, com essas baboseiras de gente grande. Mas você vê que no mundo dela é tudo mais simples, que mentira é mentira é pronto. Simples assim.

Então, você pede desculpas, dá um beijinho na testa, se agarra ao defensor-do-mundo-adulto-e-complicado-e-já-tão-manjado "um dia você vai entender isso" e sai, envergonhada, pensar no que fez.