Cláudio
Eu devia ter o quê? Uns 13 anos, no máximo. Minha mãe trabalhava em uma empresa de transportes públicos. Aliás, a única da cidade. É, aqui é monopólio. Uma única viação dá conta da cidade inteira. Muito cheio da grana os caras. Mas o que é que eu estava falando mesmo?
Hum. Meu primeiro tipo.
Treze anos e nenhum conceito sexual, nenhuma conversa sobre nadica de nada. Menstruação eu achava que eu tinha me machucado. Quando chamei minha mãe, ela disse, seca e diretamente: isso você vai ter todo mês agora, aprenda a usar absorvente. Muito meiga, ela.
Não tinha acesso à revistas tipo Capricho, então nem sabia o que era sexo. Nem o que acontecia, nem como acontecia, nem onde era o quê. Tá, também nunca pensei que os bebês vinham da cegonha ou do repolho. Mas não sabia como iam párar dentro da barriga das mulheres. Suma: ingênua até umas horas.
Então que tinha fins-de-semana que minha mãe tinha que trabalhar e me levava junto. Ela era alguma coisa dentro do Departamento Pessoal de lá, nunca me interessei de verdade, mesmo porque meu mundo era na casa da minha avó. Ela que brincava de mamãe-e-filhinha de vez em quando.
E foi nessas que conheci o dito-cujo. Uns 10 anos mais velho que eu, trabalhava na mecânica do lugar. Típico unhas nada charmosas - e aí a explicação de que mãos hoje em dia são um fator muito relevante pra mim.
Me lembro perfeitamente as palavras da minha mãe: 'teu pai não pode saber...' E eu lá, tonta, me perguntando: saber do quê? Tempos depois, minhas idas ao trabalho dela começavam a virar rotina. Saía da escola, ia pra lá, era a ordem. Sempre com esse moço às rondas. Até que veio a notícia: 'vocês vão ao shopping, tomar sorvete, eu deixei, do teu pai cuido eu'.
E lá fui eu. Enfeitada de mocinha, de mão dada àquela mão cheia de graxa em volta das cutículas enormes. Hormônios gritando, e eu não entendendo nada daquela linguagem. Passeamos, comemos no méqui, tomamos o tal sorvete. Uma hora, em que meu corpo tremia de cabo à rabo, senti os lábios deles nos meus. Abrir a boca nem pensar. Socorro. Não entendia nada.
Quando voltamos, eu provavelmente estática, não me lembro bem, minha mãe me aguardava ansiosa por notícias. Ela concluiu que eu estava namorando o moço. Meu primeiro namorado escolhido à dedo por ela. Tal como na Idade Média.
Daí que fiquei sabendo que íamos viajar: eu, ela e ele, obviamente. Excursão não lembro mais pra onde. Mas uma coisa não esqueço nunca mais: eu, que até no meio da viagem estava sentada ao lado dela, magicamente estava ao lado dele, depois de uma breve soneca. Ele segurava minha mão e fazia carinho na palma. Eu olhava pra trás, querendo sair dali, em busca de uma visão maternal, e quando finalmente eu entendi que eles tinham trocado de lugar, calei-me. Estava assustada. Muito assustada.
Minha recordação disso tudo cai diretamente na volta pra casa. Não me lembro onde fomos, nem por onde andamos, ou se banquei a namoradinha imposta durante esse percurso. Sei que na volta, noite já, estava eu sentada ao lado do Cláudio, que sugeriu que eu deitasse no colo pra descansar. Atormentada, deitei. Ingênua e idiota, deitei. Quando comecei a pegar num sono leve, senti a mão dele adentrando minha blusa, circulando meus seios recém-protuberados.
Levantei num pulo, chorando. Ele olha assustado e fala: 'não conte pra sua mãe'. Meu primeiro contato com a idiotice masculina. Inesquecível.
Corri para os primeiros bancos do ônibus e gritei: 'ele passou a mão em mim' com todos os ípisilones e dáblius. Eu estava inconformada e berrava isso pro ônibus todo ouvir. Não restou nada mais à minha mãe, a não ser me sentar do lado dela e colocar um fim no assunto.
Nunca mais falamos sobre isso, nunca mais vi o Cláudio, nunca mais fui ao emprego dela, nunca mais esqueci a história.
[e esse é o primeiro de uma série de algumas histórias no mesmo naipe... se não, isso será mais alguma coisa que começo e não termino.... novidade nenhuma nisso, no entanto.... não aguarde por mais, aconselho.]