21 novembro, 2005

Não serviria para ser médica nunca. Cuidaria das pessoas de graça, levaria o hospital à falência, brigaria com meio mundo, assumiria responsabilidades não cabíveis à mim, não dormiria de noite, viveria feito um zumbi, ligaria pro paciente depois pra ver como ele anda, completamente Patch Adams.

O mesmo caberia se eu fosse dentista, enfermeira, cirurgião, psicóloga.... absorveria todo e qualquer porblema como questão pessoal, como problema exclusivamente meu, e resolveria com toda certeza do mundo. Só que minha vida não seria mais minha.

Não serviria para vender nada. Odeio gente me empurrando as coisas, falando que está lindo em mim, que aquela coisa combina comigo. Vendedores que a cada um passo meu, dão dois, me seguindo, me sorrindo, me indagando com toda simpatia ensinada em workshops. Não serviria para escutar aquele famoso "só estou dando uma olhadinha", porque seria a minha deixa para não atender mais a pessoa, porque sei que vendedor chato é o vendedor que fica ali, impregnado na gente e eu não conseguiria ser assim. Não venderia nada, no fim do mês comissão zero e, no mínimo, demissão.

Só sirvo para fazer o que faço - e olhe lá. Não sou nenhuma Santa Madre, mas às vezes sofro por ter que driblar, roubar aqui e ali, mentir. Lidar com dinheiro é uma merda mesmo. Você tem vários amigos que confiam em você até seu primeiro escorregão. Então, você poderá se tornar uma verdadeira inimiga, o que piora bem as coisas. E nesse mundo de siglas e números, não se pode errar. Porque você está lidando com cifras que não são suas,e tem que tratá-las como se fosse a mais rara das cifras, duplicando-as, triplicando-as, tornando os ricos mais ricos e os pobres mais pobres.

Enfim. Sei que a vida é hipócrita demais. E isso me irrita tanto. Meus dias não andam legais. Não mesmo. Pára tudo. Quero descer.