22 abril, 2005

Não sou nada atraente fisicamente. Sou -insisto em dizer- do tipo normal. Acho até engraçado que muitas vezes que eu vesti-me para matar, sempre encontrei uma muito mais linda, mais arrumada, mais sexy do que eu. Daí dou risada. Porque está em mim não querer chamar a atenção. Estou acima do meu peso e não tenho grandes encanações com isso. Mas também não gosto de grandes decotes, onde terá uma matilha babando nos meus peitos, não gosto de nada que engrandecerá ainda mais o meu quadril e também não gosto de nada ao extremo: saia curta, calça apertada, roupa transparente.

Enfim, repito, sou normal. Esqueço de fazer a unha semanalmente, faço escova somente pelo fato de que não posso trabalhar com o cabelo todo num coque, muito raro vou além do batom e lápis nos olhos, e sempre caio no tradicional jeans e qualquer-blusinha-que-eu-me-sinta-bem e uma sandália ou um sapatinho baixo, sei lá. [mesmo porque de social, basta a vida profissional]

...

Daí que inventei em mudar umas coisas no quarto das crianças e vi que umas prateleiras viriam bem à calhar. Remexe aqui, vira ali, recoloca ali e finalmente, concluo que vou comprar as tais prateleiras e talvez aquela tinta que faltou pra pintar os fundos, e ficou por isso mesmo, faz tempo. Então, no outro dia, acordo decidida onde vou - conhecer o Telha Norte, uma big casa de construção, que inaugurou aqui perto.

Consumista do jeito que sou, ali é o paraíso. Mas me contive [tá, um pouco só] e fui direto ver as prateleiras e logo depois a tinta. O rapaz, com a camiseta da Suvinil, perguntou se eu precisava de ajuda e eu aceitei, já que não achava a cor. Mas o tal rapaz estava em treinamento (aliás, pessoas em treinamento são um carma pra mim, assunto pra outro post, sem dúvida) e chamou um outro atendente ali para esclarecer-me as dúvidas.

O moço veio, solícito, com uma beleza normal, embutida no seu sorriso perfeito. Disse que tinha a cor, mas precisava preparar, que eu podia dar uma volta na loja que logo estaria pronta. Fui dar a tal voltinha, que virou uma voltona, porque parte de mim ficou naquelas simulações que eles fazem de cozinha, banheiro, sabem? Aquelas partes onde eles montam como se fossem cômodos mesmo.... onde se baba e se sonha em ganhar na megasena rapidinho e tal... enfim, depois de muito tempo (mais de uma hora, com certeza) eu voltei ao stand da Suvinil e não havia ninguém lá.

Depois, encontrei com eles dois - o 'em treinamento' e o 'moço treinador', que me disse: "Fomos procurar por você" e sorriu perfeitamente de novo. Daí que ele foi preparar a cor da tinta, claro, porque achou que eu tinha ido embora, devida a grande margem de pessoas que fazem isso. Sorri, disse que eu não era do tipo de pessoa que faria e ele pediu desculpas, bonitinho ele.

Encostei no balcão e fiquei admirada com tal máquina SelfColor Suvinil que prepara a tinta em dois minutos na cor que quiser.... Daí o moço 'em treinamento' tinha sumido e ficamos eu e o 'moço treinador', que encosta no balcão, perto de mim e diz:

- Tá frio?
- Hein? - (como assim 'tá frio?', estamos brincando de 'tá frio/tá quente'?-pensei)
- Tá frio lá fora?
- Não, tá um mormaço. (respondo)
- Não vejo a hora de fazer frio logo. Tão bom.

[ah, meujesuis, o moço toca logo na minha estação preferida, aiai]

- Eu também gosto muito de frio. (eu digo)
- Melhor pra tudo, né?
- Sim, pra tudo. (completo, meio inconsciente do que eu estava dizendo e dos vários sentidos da frase)

No que volto o olhar, ele está sorrindo fantasticamente outra vez. Que sorriso era aquele? Tirou-me o ar. Ele notou, claro. Acho que eu estava olhando fixamente pra boca dele, sei lá. Só faltava usar aparelho ortodôntico.

Daí tento disfarçar, da pior forma possível... ele estava arcado no balcão, bem perto de mim... falei qualquer coisa sobre a tinta - ou sei lá. Ele se recompôs também, veio trazer a lata no meu carrinho, eu agradeci e fui saindo. Foi quando escutei:

- No frio você volta para terminarmos a conversa?

Sorri ainda parada e, sem olhar pra trás, continuei o percurso até o caixa, sem responder, porque tem certos momentos que o silêncio funciona muito melhor do que qualquer palavra. O ego agradece.