Desde que comecei a trabalhar, estou mais na rua do que outra coisa. O chato é párar o carro. Então, parei numa vaga da rua e notei que estava sem moedas e a cidade adotou o sistema de parquímetros que não aceita notas.
Achei uma 'tiazinha' do trânsito (apelido doce, não é mesmo?) e estiquei uma nota de 1 real e disse pra trocar, por favor. A empresa não fornece moedas para trocarmos, senhora. Foi a gentil resposta da tiazinha. Então como faço, se não tenho moedas? - com a maior educação britânica e invejável que meu ser poderia proporcionar naquele momento.A senhora tem que estar tentanto trocar nos estabelecimentos...
Fui na pastelaria, no umenoventaenove e no despachante. Não tem, é a resposta geral. Decido que não vou andar mais do que o limite da onde está estacionado o carro e que também não perderei a calma. Suspiro, alcanço a tiazinha que ainda está por ali tentando acalmar um senhor que levara uma multa e lamento o fato. Ela olha e diz que realmente, não pode estar ajudando. Fico igual uma pata-choca e penso rapidamente no filme "Um dia de fúria". Volto pra perto do parquímetro e fico esperando alguém pra mendigar trocar a nota por moedas.
Chega um senhor e explico a situação. Maldizemos os parquímetros e todas as suas tiazinhas e seus malditos gerúndios infernais. Ele me estica cinquenta centavos e pergunta se meia hora resolve meu problema. Eu falo que sim, mas não estou pedindo pra dar, quero mesmo trocar a nota de um real. Ele diz que ele só tem duas moedas de cinquenta e aceita ceder uma pra mim, porque meia hora resolveria o problema dele também. Proponho pra ele ficar com o um real então, e ele sorri, dizendo que é um prazer me ajudar.
Aceito (porque não há outro jeito), vermelha de vergonha de ser participante de um sistema tão humilhante. Enfio a moeda lá, aperto o botão de meia-hora, retiro o bilhete, ponho no carro e saio em direção ao banco, cabisbaixa, jurando piamente que nunca mais esquecerei de deixar o cinzeiro do carro abarrotado de moedas, pra nunca mais passar por isso.
Mundo cruel.