Terrorismo:
Havíamos combinado eu e ela que nos encontraríamos ainda em 2004. Daí, veio a novidade que eu tiraria duas férias no ano: uma em julho (em recorrente) e outra onde eu sempre tirava, em dezembro. Então foi cogitada a idéia - posso ir pra lá, uns 3 dias, agora... Junto com tudo isso, inundei-me de probleminhas chatos por aqui e a idéia chegou até a desfazer-se, por motivos óbvios: desânimo.
Foi quando ela me ligou, dias antes do seu aniversário e me pressionou. Mas pressão mesmo, de colocar todo mundo pra gritar no telefone, pedindo para que eu fosse. E mais:como seu aniversário estava próximo, ela pediu a minha presença de presente pra, nada mais nada menos, que Deus. (!!!) Chorei feito uma vaca desmamada (vaca chora será?) e aquilo tirou meu sono...
Meus propósitos com Deus andam meio que vagando por aí, e eu não podia faltar com Ele (nem com ela) de novo. Ainda assim, meu desânimo era gritante, até que.... a Cacau, essa coisa linda fofa salve salve, me ligou. Ouviu todos os meus problemas, deu atenção a cada detalhe, segurou minha mão, mandamos todo mundo se arrombar e me convenceu que eu tinha mesmo que ir.... (te devemos essa, cherry)....
Eu? Eu fui.
Quer dizer: nós fomos - eu e as meninas.
Os preparativos
Sou péssima pra fazer malas, deixei essa parte por último dos últimos. Eu já havia pedido pra ela me mandar um mapinha, assim, detalhadinho, pra que eu chegasse lá. Ela mandou. Anotei tudo e fui em busca de mais informações na internet. Achei um site maravilhoso e frustrante ...explico: ele te dá até as curvas que você tem que fazer, mas também dá detalhes de tudo, inclusive o quanto vc pagará em combustível, pedágios e afins. Descobri que eram muitos, mas muitos pedágio$ até lá e que era bem mais longe do que eu imaginava. Porém estava decidido: eu ia.
E naquela manhã, ela me ligou outra vez. Disse que não queria que eu tivesse atendido (me queria na estrada) e eu respondi que estava indo... Era domingo. Meu e das meninas. Não sei qual a oração dela, mas como eu disse que se chovesse eu não iria, São Pedro colaborou e eu saí daqui por volta da hora do almoço....
Pé na tábua
Mapinhas devidamente colacados no painel do carro, bora todo mundo. Malas (com muita roupa de frio, graças à Deus) no porta-malas, cds* preferidos no banco vazio do meu lado, carro abastecido e verificado, rumamos pra Sampa/capital... Eu não sabia exatamente pra onde estava indo, quer dizer, tinha o nome das rodovias todas, mas não sabia como seria...é um lado pro qual nunca fui, que eu me lembre.
Falava com as meninas que o caminho era longo, pra elas não estressarem para que eu não me estressasse. Até um certo ponto, fomos conversando, só que claro que tudo enjoa, né? Elas estavam quietas fazia um tempão, então resolvi dar minha primeira parada, num posto limpinho, pra fazer xixi e comer alguma coisa...ah é, o carro estava empanturrado de guloseimas, mas é claro que elas ainda quiseram comprar mais... guaranazinhos, Ruffles e um doce de leite... e eu um café e um pão de queijo.... bora de novo.
A alegria havia retornado pro carro, por mais alguns instantes.... Voltamos a conversar, cantamos juntas as músicas que tocavam, até aquilo ir minguando de novo e o silêncio imperar desesperadamente... Eu já estava na metade do caminho, pelo que eu entendi dos mapas... e nos pedágio$ eu sempre me informava mais um pouquinho.... Estava tudo caminhando bem.
*( a naomi, essa flor, me mandou de presente, um cd com músicas de filmes... é claro que esse cd tocou várias vezes no percorrer do caminho... e é mais claro ainda que amei o carinho, viu, naomi?... tua cartinha foi lida e relida... carta de próprio punho, em papel de carta cheio de macaquinhos, gentem, morram de inveja....)
Tic tac
Quando deu umas 4 horas de viagem, eu xinguei ela... Ela havia me dito que eram aproximadamente (mas é longe disso), esse tempo que eu levaria... Só se for do fim da Castelo Branco... mas enfim, eu tinha q chegar né? Tudo muito reto, tirei umas fotos da estrada, parei de novo depois, comemos, fizemos xixi, tudo outra vez. Perguntei se eu estava perto e eu estava, êba. Mais uns trocentos quilômetros, o atendende do posto disse. Só que a hora se estendia e eu ODEIO dirigir à noite.
Quando estávamos perto, mas perto mesmo, uma ou duas cidades antes, começa uma chuva infinita. As crianças, nessas horas, já estavam de saco bem cheio - e eu também, além de preocupada: estava anoitecendo. Já faziam mais de 5 horas que eu estava dirigindo e começou a me dar pânico.... Eu sabia que estava no caminho certo, as placas da cidade já tinham aparecido, mas eu não chegava nunca aonde ela tinha me indicado: uma tal de Transpen. Mas que eu nunca mais esqueço esse nome, meu Deus.
As orientações foram para que eu não entrasse na cidade... e que depois do posto policial, eu entrasse no trevo da Transpen...para mim, Transpen, dado assim, como referência, era um negócio gigantesco, que eu enxergaria numa boa, à metros de distância.... O posto policial já era faz tempo, a chuva não dava trégua e passavam das SEIS horas já...
Mamãe, a gente tá perdida?
- Mais ou menos. Chegamos na cidade, mas não achei a tal Transpen que ela me disse...
- Mas mamãe, vc viu a placa da cidade ali aonde a gente já passou?
- Vi, mas não é pra gente entrar na cidade, Rafa.
Eu notei que minha menina já estava chorando. Pensei as tantas vezes que eu tive oportunidade de ligar pra ela e não liguei... agora não adianta em nada mais... tenho que achar a Transpen.... Seguindo a estrada, comecei a notar que minhas mãos tremiam, a Rafa continuava chorando e a Raquel havia balbuciado qualquer coisa do tipo: a gente não vai encontrar nada nessa chuva...
O rádio, desligado faz tempo, já não tinha mais graça... Lembro que pedi pra Rafa parar de chorar e pra Raquel ficar quietinha... a paciência já tinha ido, a preocupação era notável e eu tinha que dar um jeito naquilo.... Virei o carro, peguei pista contrária e disse:
- Vamos lá naquele posto policial, da entrada da cidade. Não quero mais brincar... De lá, ligo e elas vêm nos buscar. Muita calma até lá, combinado?
E na pista, voltando...
Uns 20 minutos voltando, procurando o posto policial, enxergo, do outro lado, um muro branco, e as letras garrafais:TRANSPEN.
Gritamos, todas. Elaborei tudo que eu ia falar pra ela... caramba, tu me dá uma referência que só dá pra ver o que é na pista contrária?
Mas eu não disse nada disso. Nem eu, nem as meninas.
Quando chegamos na casa, notei o quanto a gente preocupou todos lá também, quando a vi apertar o controle do portão pra eu entrar, saltitando, literalmente, de alegria. Nós, no carro, gritávamos, pela missão cumprida. Elas gritavam, porque a gente, finalmente chegou.
...continua...