10 junho, 2004

Vamos prosear? Bora?

Acho que nunca em minha vida eu me senti tão importante como nos últimos dias. Isso engloba o pessoal e o virtual, que no fim acabam por ser a mesma coisa, pelo menos pra mim, uma blogueira crônica.

As três semanas que antecederam o meu aniversário, mais conhecido por inferno-astral, foram dias duríssimos. Entre tantas coisas, eu e minha mãe discutimos feio, como há muito eu tentei evitar, mas me foi impossível escutar mais asneiras e fazer cara de paisagem; trabalhei feito camelo no deserto, sem tempo pra quase nada, na verdade, fazendo-me tempo, para não pirar; tive problemas com a Raquel na escola, tendo que ir na direção ver se resolvia, caçando discussão -gente do céu, preciso de trava-boca- com a professora, com a inspetora e com a administração do colégio; fui ao enterro mais horroroso de toda minha vida, onde vi gente desmaiando, sofrendo muito, pela perda de um jovem de 20 anos, por um acidente banalíssimo de moto; passei bem menos tempo com a vovó, que piora e melhora, mas cobra a presença da gnete na cara dura - e ela está certa; corri feito uma atleta na São Silvestre para dar conta de trabalho, família, filhas, amigos e virtual; tive que engolir desaforos básicos da família, quanto à dinheiro, que eu também não tinha sobrando como eles imaginavam, mas em tudo dá-se um jeito; chorei quietinha no quarto pra lavar a alma e ninguém sabe, ninguém viu; tive brigas homéricas com gente que amo, proque estou numa fase onde imploro compreensão em vão; me perdi, me achei, me perdi e me reencontrei novamente.....

Já nos 3 ou 4 dias que antecederam o meu aniversário, começou tudo a clarear... meu sorriso foi voltando ao deparar-me com Gérberas na minha mesa, tanto em casa, como no trabalho... um bombom laçadinho na alça da minha bolsa... bilhetinhos no minha blusa.... presentes de todos os tamanhos, gêneros e gostos - ganhei um conjunto de perfumes maravilhoso, com uma bolsa maravilhosa de gente que eu nem conhecia direito! - emails, telefonemas, cartões - e meu aniversário nem tinha chego ainda!

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A novidade

Há mais de uma semana atrás, tivemos uma reunião importante à beça na empresa, para ocupar um cargo pra lá de cobiçado. É lógico que também sou filha de Deus e já havia passado na minha cabeça ocupar o tal cargo, só que bem pé no chão mesmo, eu também sabia que tinha gente muito mais preparada que euzinha.

Já na reunião -que ultimamente está bem parecida com aquelas reuniões de conselho da novela Celebridade, com excessão de um Renato Mendes, lógico- lá estava eu afastando minhas cutículas com a tampa da caneta, quando meu chefe comunica a nova posição do cargo. Comecei a prestar atenção, curiosíssima....

- Em pauta, o cargo de Controladoria e Administração Financeira.
(Polly toda ouvidos)
(asneiras políticas da empresa)
(tempo que não passava)

E ele continuou:

- Tenho acompanhado o empenho de cada um e, para o cargo, preciso mesmo de empreendedores, com fome e garra, que entenda bem da função, que disponibilize de mais tempo, que tenha simpatia e punho ao lidar com os clientes, que isso e que aquilo...
(Polly volta a cutucar as cutículas)
(e pensa: vai ser o Adelmo... com certeza)

- .... e por isso, sugiro ao cargo a "Pollyanna"
(Polly levanta um olhar assim, meio, não entendi, pode repetir?)

Quando dou por mim, ao escutar meu nome (meu nome, não Pollyanna, óficórse), estavam todos olhando pra mim. Meu Deus, era eu mesma. Na hora, me veio uns insights de toda minha correria até ali, de toda a luta diária, de todo o trabalho suado (até de garçonete trabalhei - e adorei, diga-se de passagem) que fiz pra pagar a faculdade, da ausência das minhas filhas filhas, da fase vender- o- almoço- para- pagar- a- janta, dos enormes sapos que engoli nos estágios que fazia, do preconceito de ser mulher com alguma pretensão, de receber salários mais baixos que os homens numa mesma função e principalmente, no meio de tudo isso, sacar que PQP, venci.

Depois do susto inicial, ele me chamou para uma conversa em particular, com mais política da empresa, mas blábláblá infinito de tudo que já sei, quando de repente:

- Se quiser, pode mudar de sala; se preferir, continua na sua mesmo.
- Prefiro permanecer perto deles.
- Ok, vc é quem sabe. Preciso dizer pra vc algumas coisas delicadas, nem sei por onde começar...
- Não se aveche. Fale.
- A conduta...
- Hum...?
- Esquece o jeans.
- Hum, eu vou concordar para que a gente não caia em mais uma ladaínha.
- É um cargo importante, criatura.
- Nunca concordei com essa neura, o sr. sabe.
- Mas terá que concordar.

(Nota: odeio imposições... odeio também que TENHO que concordar.... mas tá, né?)

- Ok, chefe... só terninhos e saltos altos.
- Assim que se fala.
- (sorriso)
- Lembra da maquiagem também.
- Essa eu tenho que anotar...sabe que não gosto muito.
- É, mas faz parte.

(Nota2: meu chefe falando faz parte? tsc tsc)

- Tá, terninho e maquiagem.
- Sabe que lidará diretamente com pessoas importantes, a última palavra será sua (praticamente), dependerei de você para várias outras etapas aqui da empresa...
- Eu sei, eu sei.
- Confio muito em vc.
- Obrigada.
- Desculpa se tenho que te montar para o cargo, filha...

(Nota3: é, às vezes ele me chama de filha, bunitinho, né?)

- ... mas tenho que fazer isso, vc entende?
- Tenho um certo desvio quanto à isso, senhor. Acho que a roupa não faz a profissão. Assim como os jargões de cada profissional também. Mas se o senhor prefere assim, só tenho a agradecer pela confiança e responder à altura.
- Sim, prefiro.
- Ok, farei o que for necessário.
- Agradeço e boa sorte.
- Dispensada?
- Sim, te desejo bons fluídos, filha.
- Obrigada mais uma vez.
- Lembre-se: não vai ser fácil.
- E quando é que foi?
(risos)

Já chegando perto da porta, páro por um instante. Minha cabeça intercala todo o sufoco que virá com todas as regras à seguir. Quando algo me impulsiona e perguntar:

- E o meu jeito de falar?
- Não sei, acho que vai muito da tua intuição. Sei que chama os meninos de "cara" , "meu", "bebê", e acho realmente que isso é bom, pelo menos no meio de vocês, porque funciona. Talvez isso possa permanecer no ambiente em que já estava. Eu te falei: teus horizontes ampliaram, falará com mais gente, encabeçará mais reuniões.... Tente policiar-se.
- "Caraca" nem pensar, né?

E ele gargalhou. Talvez pela minha mente insana preocupar-se em continuar ou não dizendo "caraca" ao invés de enlouquecer com o tanto de trabalho novo que estou fazendo. Fazer o quê? Sou assim. E posso dizer com garantias: estou me esforçando ao máximo com as roupas, que antes eu não tinha dúvidas: se estava a fim de tênis e calça jeans, eu ia, sem problemas.... Me esforçando ainda mais com maquiagem, que antes, quando muito, um batom cor-de-boca... mas párar de falar "caraca" tá sendo difícil....

O cargo em si não não é nenhum bicho-papão, mas requer mais tempo... tenho um secretário, coisa que eu não tinha, é tudo meio glamouroso, quesito que não sei lidar muito bem.... sou muito plebéia para um cargo de princesa, entendeu? Então... mas é uma profissão que curto, que gosto de fazer, daí finco minha base. Continuo com as mesmas pessoas ao meu redor, o que me é muito importante... e sigo em frente, porque atrás vem gente e a fila anda, sempre.



No domingo, depois do meu aniversário...

Eu não acredito que ainda estou escrevendo a palavra "aniversário", mas vamos lá... curtinha, prometo:

Depois da avalanche de carinho virtual, o tanto de agradecimentos que coloquei por aqui, a cara de Hã que fiquei, o sorriso estampado no rosto durante dias a fio -e ele continua por aqui-, ainda ganhei um churrasco no domingo passado, onde conseguimos reunir um tanto de gente querida aqui em casa, que há tempos eu não via. A Lu (nossa BorboLeta sumida), ligou bem na hora da bagunça para desejar-me felicidades e eu nem pude dar muita atenção... ficou meio festa do Andaraí, coisa boa, sabe? todo mundo falando alto, eu me desdobrando para dar atenção à todos, presentes em cima da mesa do computador - em sua maioria velas, incensos, bruxinhas, sapinhos da sorte que eu adoro, os homens jogando truco, as mulheres falando mal dos homens, as crianças correndo pra lá e pra cá, papel de brigadeiro colado no chão da sala (eu nem sei de onde surgiram os brigadeiros, confesso, alguém trouxe), um bolo de morangos com chocolate que eu não consegui comer nenhum pedaço, amigos em volta, Maurício Manieri no dial fazendo o povo requebrar....

O que me resta? Agradecer profundamente o virtual que acabou no real, marcando em minha mente um 05/06/2004 inesquecível. E arrematar: sem amigos, a gente não é nada nesse mundo. O último OBRIGADA desse encerrar de festividades é pra Deus... só Ele sabe e entende o quanto isso tudo me foi, me é e me será importante.

Pra fechar: feliz!