20 fevereiro, 2004

Hoje foi um dia bem corrido. Na verdade, começou ontem, quando recebi o recado que a irmã de minha avó, que eu chamava de Tia, havia falecido. Fiquei bem surpresa, porque mesmo sendo mais velha que minha avó uns 2 anos, ela sempre foi muito mais forte.

Vivia numa cadeira de rodas, pois tinha uma perna amputada, por causa da diabete que ajudou a nunca conseguir cicatrizar uma doença degenerativa da pele, o que levou à amputação... mas isso nunca a fez perder o ritmo, e como ela mesma disse um dia "precisei só me adaptar"...

Morava sozinha, numa casinha simples, de parede barroca, com fogão à lenha e banheiro minúsculo (só o vaso sanitário) ... contava com a ajuda da filha Thereza, que já comprou uma casa perto da mãe, já que a "mãe nunca sairá daqui mesmo"

"Só saio morta, Thereza..."- replicava a Tia Chica - e assim o desejo se cumpriu.

Thereza é uma mulher fenomenal e engraçadíssima, que nunca deixou ninguém chorar ou sentir tristeza. Lembro-me de um dia, no hospital, onde a minha avó ainda se encontra, Tia Chica e a filha Thereza chegaram rindo muito, brincando muito, fazendo até a minha própria avó sorrir.

"O que tanto vcs dão risada, hein?"- alguém perguntou, talvez até eu mesma.

E a Thereza, inconfundível na gargalhada, respondeu: "Do quê? Vcs não sabem o sufoco que a gente passou pra chegar com a cadeira de rodas até aqui...

"Ué, mas e o elevador?"

Muitas gargalhadas... não sabiam que tinha elevador...

Pois sim. Thereza, a terrível, hoje chorou. Flagrei-a sentada aos pés do caixão, olhando a feição da mãe, com o olhar transfigurado de amor. Não a quis incomodar naquela hora. Tia Chica tinha mais filhos e filhas, mas Thereza é especial, é diferente.

Na hora mais difícil, já no cemitério, me acheguei junto à ela, e ela me abraçou comovida. Tia Chica estava prestes a "ir embora" pra sempre. Thereza, ainda com muito amor no olhar e algum sorriso no rosto (há de terem plantado alegria dentro dela em demasia), olhou pra mim depois de Tia Chica já ter sido enterrada, e me disse: "Hora de ir, Claudia. Tenho que deixar ela aqui, né? Não tenho mais de quem cuidar."

Não tive palavras. Chorei. Ela não mais.

Passou a mão no meu rosto e disse: "Vamos prosseguindo. Assim é a vida. Depois de perder o chão ontem com a notícia, hoje já me sinto melhor...sei que a mãe gostaria de me ver assim. Pronto, chega de choro. Sigamos em frente" - com um lindo e largo sorriso nos lábios.

Entrei no carro com as meninas pra vir embora e, até agora, ainda estou pensando no grande aprendizado com minha prima Thereza hoje. Constatei também que, quando queremos, quando nos preparamos, é possível ter uma despedida serena... um ciclo fechou-se.

* Tia Chica chegou no hospital ontem com muita dor, contatando-se apêndice. Mas não aguentou nem o pré operatório. Vai com Deus, Tia. Ele, assim como a gde Thereza, cuidará muito bem da senhora.

* Minha avó não pode ir, está muito deliberada pra tanta emoção. Apesar de ser a última irmã dela, decidimos poupá-la... o médico ajudou, dizendo que ela não podia, isso e aquilo, senão não teria outra pessoa pra convencê-la...


Prosseguiremos, então, Thereza.
Sem choro.
Bora pra mais um ciclo.


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Seguindo em frente, pq a fila anda...

Mais um amigo que fez aniversário dia 16 e eu cheguei atrasildis. Mas isso não é novidade, assim como também não é novidade os carinhos que faço questão de postar por aqui... Então, Tadeu, pra vc: