04 fevereiro, 2004

(Martha Medeiros)
8 de julho de 2002

Tem uma letra de música, acho que é da Luciana Melo, que revela o meu maior sonho de consumo: "Tudo o que eu quero é que o dia termine bem". Não há nada mais importante para se desejar na vida.

O dia é feito de discussões com a família, desentendimentos com os colegas de trabalho e agressões verbalizadas num ímpeto, sem querer. Um pedido de desculpas é tudo o que precisamos para o dia terminar bem.

O dia é feito de ansiedade. Você aguarda aflita um telefonema, um e-mail, uma visita, um boa notícia. Dorme pouco, não come direito, quase desiste dos seus sonhos e, lá no finalzinho da tarde, o telefone toca, o e-mail chega, o dia termina tão bem que você já providencia os mesmos sonhos pro dia seguinte.

Você nunca arranja tempo para se exercitar, mas hoje conseguiu correr três quilômetros. Não é nenhuma maratona, mas você suou um bocado.

Você jurou que não iria cair de boca na caixa de bombons que alguém escondeu no armário da cozinha. Não que você esteja muito acima do peso, mas é bom dar um tempo pro chocolate, ainda mais que a Páscoa vem aí. A Páscoa não vem aí? Não interessa, o Dia dos Pais vem aí. No final do dia, você cumprimenta a si mesma por ter trocado os bombons por uma maçã geladinha.

O dia amanheceu com chuva, a cidade alagada, caos total, justo no dia do seu aniversário, você que não festeja há anos e que resolveu dar uma festa na cobertura emprestada por uma amiga. A chuva pára no meio da tarde e antes do sol se pôr você descobre três pequenas estrelas no céu. A noite vai ser perfeita.

melhor ainda: você quer que não aconteça nada, que ninguém perturbe sua paz, que ninguém invente um programa, que o telefone não toque, que esqueçam da sua existência, porque você precisa de um pouco de silêncio e isolamento. Sua vontade é atendida, e o dia termina estupendo.

O que mais se pode querer para recomeçar tudo de novo amanhã?

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Meu dia hoje termina bem.
E tudo tá bem também.
Não vou lamentar... Deus sabe o que faz, não sabe?