Tô aqui, trabalhando.
Tra-ba-lhan-do.
Me chega minha mãe. Nem bom dia.
"Bom dia" - cumprimento que dou até ao desconhecido que esbarro no elevador...
- Nossa filha, fico impressionada vc não usar uniforme.
- Bom dia, mamãe. (sorriso amarelo de 'ai, que saco')
- Porque vc não usa uniforme?
- Porque tenho que usar? Ninguém do ramo usa uniforme....
- Ah, mas então seja mais formal. Que blusa é essa, filha? Que tipo de manga é essa?
(Nota: estou de calça preta, em georgette- pra quem entende de tecido, e uma blusa de frio, de gola e mangas enoooormes, que não sei o nome, porque não entendo de moda; e um sapato que me arrependi de ter colocado...)
- Está tão ruim assim? Além do quê, está frio à beça... (respirando fundo)... a senhora tá precisando de algo?
- Estava passando... vim te dar um beijo.
- E implicar com a minha roupa.
- Não é isso. Vc comanda as coisas por aqui, precisava usar algo mais formal.
- Eu não estou desleixada. Nunca fui desleixada... Odeio tailleur... sabe disso. E as pessoas sabem qual minha função aqui, nunca ouvi reclamações.
(resposta dada ao vazio, ela estava reparando nos livros da estante)
- Quiser, te ajudo com as roupas ... (é, ela não escutou a resposta anterior...). Sou boa nisso.
- Sei que é, mamãe. Por favor, tenho muita coisa a fazer...
- Seu chefe não implica com os seus trajes?
...pausa infinita de alguns segundos, onde me senti uma aborígene....
- Bom, mamãe, considerando que eu sou a chefe aqui, não, nunca impliquei com a minha roupa. E agora, por favor, tenho que trabalhar, sim?
- Sempre assim, me dispensando.
- É pra não evitar a terceira guerra mundial, mamãe. Café?
- Não, estou indo... se cuida.
Ela odeia café.
Então, a conclusão mais óbvia que chego é que sou produto de uma experiência de alienígenas. Isso explica muita coisa. Taí a resposta do porquê que não consigo tomar banho em menos de 45 minutos... Rá!
UPDATE: mais uma prova que sou uma mutação alienígena (putz, tô piorando cada vez mais...): consegui (pasme!) visitar - e dar a atenção devida - a todo mundo! Devia, não devo mais, pode tirar meu nome do SPC. Ainda: coloquei mais uma estatística para eu saber quem vem, quando vem e porquê vem; liguei para a dentista da minha filha para resolver o aparelho ortodôntico - que eu adiava há uma semana; tomei dois litros de café e não está me doendo o estômago e bem na hora de ir embora começou a chover e (ainda) não reclamei. Eu sabia que alguma coisa eu tinha, desconfiei desde o princípio. Não chega muito perto da tela, senão absorvo tudo que há de bom em vc pra mim, hein? (risada maquiavélica...)
Desabafos da Polly Mattos | às 01:16 PM|
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Criada em laboratório?
Definitivamente, não pertenço à minha família. Principal ponto: não vim da minha mãe. Não nasci daquela barriga. Não tenho traços, não me pareço em nada com ela, não sei qual a ligação que eu possa ter com ela, se somos absurdamente diferentes. Sabe água e óleo, dia e noite, sol e lua, mostarda e katchup? Então...
Andei pensando... devo ser alguma experiência extraterrestre. É isso. Homenzinhos sem cabelo e olhos enormes escolheram aquela senhora para fazer um experimento, em meados de 1974, que hoje os humanos chamam de fertilização in-vitro e acham que descobriram uma grande coisa. Usaram o senhor, que chamo de pai (que é gente finíssima) para garantir-me uma 'família', porque afinal é a única pessoa a entender o senso literal da palavra. Então, pesquisando aqui e ali, formou-se EU.
Eu, que nada tenho a ver com a senhora minha mãe. Nem de longe em físico, menos ainda em personalidade. É assustador.