20 junho, 2003

A esperança é a última que morre...
... se ninguém assassiná-la antes.

Posso dizer que, desde a separação, eu mantinha a esperança de que o pai de minhas filhas mantivesse um relacionamento, ao menos, com elas. Até batalhei por isso. Por umas e por outras que a vida nos apronta, ele acabou casando-se novamente e tem uma nova família - o que distanciou-o ainda mais das pequenas. Tudo bem, desde que não houvesse prejuízos. Vira e volta, alguém da família dele, principalmente o pai (meu ex-sogro), forçava alguns encontros 'casuais' entre ele e as meninas. Nunca impliquei com isso, mesmo tendo em mim o ditado que minha vó nos ensinou: "oferecido não é querido" - ou seja, não forçe nada, se não há procura....

Enfim, assim percorre os anos, desde a separação. O pai, ausente no Natal, no Ano-Novo, na Páscoa, nos aniversários... elas não entendiam porquê ele tinha que 'trabalhar tanto assim'... Eu, nos dois papéis, e com um pouco de bagagem, nunca, anotem: NUNCA me intrometi em dizer que o pai havia se esquecido delas por pura opção... Esse mundo é pequeno, dá voltas, e eu (infelizmente) não sei o dia de amanhã pra sair falando o que realmente acho do homem que me casei um dia....

Sendo bem prática, e dando sempre desculpas esfarrapadas do porquê ele não veio de novo, acabei compensando com outras coisas, sendo pai e mãe junto... e ele achando que a pensão cobriria a falta de amor....

Até ontem, eu tinha essa esperança. Até ontem, eu acreditei que, um dia, ele conversaria com as meninas e que se tornaria mais presente. Até ontem, eu via a ausência como um deslumbre de uma nova família, de uma nova filha (hoje com 3 anos e que as meninas a chamam de prima...), de uma nova vida... Até ontem.

A Rafaela, mais velha, tem sinusite. E ontem, numa crise forte, precisei -pela primeira vez em quase 5 anos- que o pai aparecesse e lhe desse um pouco de carinho, já que é o que ela pedia. Criança doente, mimada, dengosa...porém, esperta. Notou minha feição diante do Não, no telefone. Chorou quando eu falei que o pai não poderia vir. Chorou ainda mais quando notou minha impotência diante da situação e desculpou-se por ter feito um pedido tão difícil.

- Mas a mamãe tá aqui, filha. E sempre estará.

Mas o pai não. Ele acaba de assassinar uma bela mulher.... que acalanta nossas dores, quando elas insistem em existir. Ele acaba de assassinar o último sentimento que eu tinha em relação à ele com as meninas. Ele assassinou friamente a Esperança.

Desculpa, eu precisava dizer isso.
E meus olhos não vão aguentar mais...

Boa sexta-feira.