22 junho, 2005
u tenho que contar da minha estréia no mundo artístico. Quando eu tinha uns nove anos, a minha turma de escola resolveu encenar um espetáculo que misturava as estórias de Branca de Neve e os Sete Anões, Cinderela e Bela Adormecida. É claro que a idéia original era bem mais simples: pegar uma dessas estórias, escolher os atores e ponto final. Mas eu (claaaaro... quem mais poderia complicar a vida de todo mundo?) sugeri criar uma nova estória, todos concordaram e botamos a idéia em prática.

Não tenho muitas lembranças do roteiro em si, mas recordo que era algo meio modernoso. A Bela Adormecida era meio piranhona, os anões tinham desvios de comportamento, a bruxa era bem parecida com a Ana Maria Braga, com mania de cozinhar e viciada em tortas de maçã e o príncipe era gago e mal conseguia se equilibrar sobre as pernas, de tão trapalhão.



Pois bem... no dia de escolher os papéis, eu faltei na aula e só fiquei sabendo no dia seguinte que fui eleita para três papéis diferentes: eu seria um anão alérgico e passaria o tempo todo me coçando, eu seria o padre que casa a Bela Adormecida com o príncipe no final e eu seria o espelho. Ahn... vocês não sabem que o espelho representa? Representa, sim. Dá um show de interpretação.


É claro que eu não fiquei nem um pouco satisfeita com esses papéis secundários. Eu queria ser a bruxa para poder me acabar naquelas tortas de maçã. A Bela Adormecida (ou seria Cinderela?) era muito chatinha, bonitinha e tal e esse papel estava fora de cogitação... então resolvi incrementar minha atuação. Na hora de responder à pergunta da bruxa "existe alguém mais bela do que eu?", respondi que não sabia, que era um espelho gay e não estava apto para avaliar. Levou cerca de 10 minutos para a bruxa pensar em uma resposta apropriada e então seguimos com a peça.


Mas eu não estava satisfeita com o destaque obtido. Eu queria mais. Eu queria a fama. Eu queria ser comentada por todos os meus coleguinhas. E então, na hora que os anões saíam correndo pelo jardim da escola (e eu no meio, me coçando), arrumei um jeito de dar uma topada em uma muretinha e estraçalhei a ponta do meu dedão do pé. Grito (meu), desmaio (de uma professora que não podia ver sangue) e correria (de todos os outros). A peça foi suspensa por causa da necessidade de pontos no maldito dedo e eu quase fui linchada pelos outros alunos. Mas eu consegui: fui o assunto do ano naquela escola.

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