16 setembro, 2003

Nos últimos três dias, passamos do desespero para uma brecha de relax. Dobramos o pescoço pra trás e o movimentamos pra direita, pra esquerda, em círculos, e soltamos um tremendo "Ahhhh" de alívio. Não, não chegamos no final, e a vovó não está recuperada. Mas já está em casa. Não por alguma melhora significativa. Foi por opção familiar.

Numa noite, ainda internada, ela teve um ataque de hipoglicemia. Minha tia, que a acompanhava no momento, sabia que era hipoglicemia. Ao chamar a enfermeira, ela disse que minha avó estava suando por causa do calor. (!!!!). Que calor? Está frio à beça, e isso é hipoglicemia, e está avançado. Enquanto a enfermeira explicava que não estava autorizada a medir a glicose, pois já havia feito o procedimento duas vezes naquele dia (!!!!!), minha vó começava com os calafrios, que a faziam se debater na cama. Como assim, não pode? quem é que pode então?- disse minha tia... Preciso avisar a minha supervisora - disse a "enfermeira" - saindo do quarto.

Por um milagre, a fisioterapeuta chegava no quarto, dando de encontro com minha tia, que já estava de saída em busca de ajuda. A Fisio perguntou o que estava acontecendo, e depois de explicado, chamou uma outra enfermeira que disse o mesmo absurdo: "já fizemos o teste às 9 e às 16h, não podemos fazer novamente, sem ordem superior". O que levou a Fisio. ela mesma, pegar o aparelho e medir a quantidade de glicose, constatando que havia abaixado muitíssimo e que o que se imaginava era fato: hipoglicemia. Correndo pelo hospital, a Fisio retornou com duas seringas cheias de glicose, as quais, mais tarde, fizeram minha avó voltar ao estado normal.

OK. Isso tudo foi, na manhã seguinte, relatado ao médico, que sem aparência de espanto alguma, fala que eles sempre acabam esbarrando em alguma burocracia. Eu, na hora, não pude deixar de pensar o que acontece com os pacientes que são submetidos à "tratamento" sub-humano, num SUS qualquer da vida; enquanto minha vózinha, num nível melhor e bem pago, diga-se de passagem, passa mal por esbarrar na burocracia (!!!!!)...

Isso tudo nos levou a optar continuar o tratamento em casa, onde não estamos à mercê de nada nem ninguém. E assim, ela voltou pra casa - com um sorriso enorme no rosto, o que me valeu tudo que passamos naquele hospital. Em casa, ela se sentirá bem mais protegida e amparada, pode caminhar pela casa sem se deparar com mais tristeza, pode comer o que quiser na hora que quiser...

Ela sofre de Insuficiência Respiratória Crônica e o pulmão direito dela já não faz as vezes mais. Por isso, é constante a tosse e a falta de ar. Com isso, soma-se a diabete - que bem controlada, não intervém no tratamento. O médico virá vê-la, como fazia no hospital. E torcemos pra que todos da família colabore pra que tudo fique bem ... da melhor forma possível. Sempre acreditei que o hospital só piora as coisas. E não precisa estar num hospital pra ser bem cuidada. Ela voltou com muitas recomendações e instruções a seguir, principalmente quanto ao oxigênio necessário para mantê-la bem... porém, mesmo assim, acredito que foi o melhor que fizemos - ela em casa, se sentirá mais segura.

"- Esqueçam o que eu disse no Natal. Acho que vocês vão ter que me aguentar mais um pouco, ou pelo menos até lá."- disse vovó, assim que entrou em casa.

.... E assim....
Por consequência da doença da vovó, todo mundo da família atrasou algum pedaço da vida particular. O meu foi no trabalho, que torço pra conseguir colocar tudo em ordem até a próxima semana.... e aqui no blog também, que confesso que estou procurando o estado de espírito que eu estava, anterior ao acontecido. É claro que nunca acharei-o na íntegra, mas sinto que tenho que buscar, em algum lugar, uma dose de humor e outra de simpatia - ando meio estressada.

Aproveitando o tempo e o post, agradeço de novo todo mundo que escreveu aqui, escreveu no email e que ligou. Um beijo gigante em cada um. Isso não tem preço, é de um valor inatingível cada palavrinha que li por aqui e cada gota de coragem que encontrei nelas. Vocês são, definitivamente, meus amorzinhos. Aos que passaram e deixaram o toque, também meu MUITO OBRIGADA...