26 março, 2004

Em 6 meses, ele havia conseguido preparar tudo mesmo. E eu, do meu lado, tive tempo pra deixar tudo pronto pra faculdade também. Muitas vezes, cheguei a pensar sobre a loucura de casar-me, fazendo faculdade, sem certeza do futuro. Mas ele me convencia, em menos de dois minutos, o quanto seria maravilhosa a nossa vida.

Minha família estava tão radiante, que cheguei a pensar que eles promoveriam uma festa assim que eu saísse de lua-de-mel. Se promoveram eu nunca soube, mas que era uma felicidade exagerada, isso era. Estava indo tudo bem, não tinha mais nada pra correr atrás, voltamos à vida normal por mais algumas semanas, tendo só que ir em algumas gráficas, escolher os convites. Um dia, convicta de que queria algo diferente, achei, escolhi o papel e encomendamos 400. Pronto, quesito resolvido também. Faltavam umas 6 semanas pro casamento.

Os convites ficaram prontos, já tínhamos feito a lista de convidados e passamos um fim-de-semana inteiro preenchendo os envelopes. Nota: eu preenchia, que a letra dele estava mais pra médico do que pra noivo.... Separamos 40 convites em branco, 20 pra cada mãe, pra convidar quem quisesse, porque era um tal de: Tem o Cicrano, pai do Fulano, viu você crescer! - e eu não tinha nem idéia de quem era.

Os padrinhos do casamento, tanto meus quanto deles, foram convidados no ato da entrega do convite, umas 3 semanas antes do casamento. Do meu lado, convidei minha madrinha de batismo e o filho dela (hoje, falecido), e meu irmão e a esposa; do lado do Marcos foram o irmão dele e a esposa, e o tio dele e a esposa. No civil foi minha tia e meu outro irmão; e os dele foram a madrinha de batismo dele e o filho dela - uma certa tradição por aqui. Todos eles aceitaram o convite comovidos, e a cada passo dado eu suspirava aliviada.

O meu vestido foi resolvido o croqui em 1 semana. Na mesma época da distribuição dos convites, mandei fazer. Era muito bordado, precisava tempo. O que as costas eram abertas, o corpete era completamente trabalhado. Não ia usar véu, só grinalda. E um "rabo" enorme, pra tomar conta da escadaria.... Tudo nos eixos, pensava eu... muitas horas na faculdade, eu me flagrava fazendo anotações... comprei uma revista especializada, com um tipo de agenda pra seguir - foi onde fiquei sabendo sobre as listas de presentes, que eu não tinha feito. Acabei fazendo duas e entregando nas lojas. Mas pouca gente usou. Pela revista que vi também algumas coisas que acabaria esquecendo ou deixando pra última hora: encomendar lembrancinhas, agendar cabelereira (dia da noiva era coisa pra milionário), comprar os sapatos e ir usando em casa pra amaciar, escolher o buquê (mini rosas vermelhas) e deixar encomendado, escolher as alianças (as de noivado viraram pingente de coração depois), escolher os pajens, a decoração da igreja, as músicas.... tudo isso intercalando com eu, a faculdade e ele, o trabalho.

As músicas do casamento merecem um certo destaque. Na igreja onde casaríamos, ficamos sabendo dos profissionais de músicas. Anotamos e agendamos horários com dois. Os dois eram pianistas. No primeiro, eu não gostei da forma que nos tratou, logo de início. E quando não vou com a cara, desista. Como o Marcos já sabia disso, deu uma desculpa qualquer e fomos visitar o segundo. Jovem rapaz, morava perto de onde eu morava. Já passavam das 21h, mas ele também trabalhava e era o único horário disponível. Casa humilde, era gente boa. Entramos. Quando ele perguntou que músicas íamos escolher, olhei pro Marcos e o Marcos olhou pra mim: a única certeza é que eu entraria com a marcha nupcial.

"Tá" - ele disse, o músico- "mas ainda tem a entrada do noivo, a benção das alianças, a consagração do casal e os cumprimentos dos padrinhos, e a saída dos noivos".... "Tudo isso?"- perguntei. E ficamos até muito tarde lá, porque a cada teste de música no piano (sim, ele tinha um piano imenso na sala!), eu chorava emocionada, sem condição nenhuma de optar por alguma delas. Acabamos escolhendo depois de 2 horas ouvindo ele tocar infinitas músicas a Marcha Nupcial, no ógão da igreja, pra eu entrar; depois todas no piano: uma do Moacir Franco que não vou lembrar mais, pro Marcos entrar; Como é grande o meu amor por você, pra benção das alianças, onde os pajens entram com as alianças; Fascinação para a consagração e os cumprimentos dos padrinhos e Ave-Maria pra saída dos noivos.

A decoração da igreja, de todas as resoluções, foi a que mais me deu trabalho, porque eu casei num sábado onde casam 3 noivas e a decoração é uma só e tem que entrar num acordo. Marquei com as ditas cujas na decoradora (que é monopólio também - vc não pode contratar uma floricultura, por exemplo); só que uma noiva não foi. Eu e a outra moça decidimos por tal decoração, sem flores amarelas - era folhagens num arco na entrada, e nos bancos lírios brancos, hotências azuis e cravos amarelos (ergh!). Combinamos de tirar o amarelo e deixar tudo em branco e azul, e as folhagens, claro. Só que a terceira noiva, quando apareceu, quis os cravos amarelos. Tentamos negociar, mas não teve jeito. A menina bateu o pé, porque adorava amarelo, e queria amarelo e pronto: tó o amarelo pra vc. Era cômico. E, dá licença, eu ia me casar também, tinha direito, estava pagando, mas a mãe dela interviu, virou uma discussão sem fim, e quando vi que a noiva ia infartar se não tivesse amarelo, ok, amarelo nela. E como fui a última noiva, tias minhas tiraram os cravos dos bancos entre um intervalo de um casamento e outro - agradecida, tias, agradecida.

Uma semana antes do casamento (eu casei na quinta-feira no civil, e sábado na igreja), o Marcos apareceu em casa num horário fora do comum. Minha avó disse que ele estava me chamando e antes de atender a poreta, lembro-me ter olhado no relógio: mas era pra ele estar trabalhando uma hora dessas. Era um pouco antes do almoço. Saí, e acho que minha feição não era nada boa. E nem a dele. Ele estava dentro do carro e fez um gesto pra eu entrar. Entrei. Ele cabisbaixo disse: fui demitido.

Era 07/02/92.
Casamento dia 13.
Tudo pronto.
E agora?

***************

Montei essas Cenas em novembro do ano passado, e sem motivo aparente, parei. Ontem, relendo meus arquivos (enquanto eles estão lá), deu vontade colocar mais uma continuação. Pensei que já conseguiria dar o desfecho, mas minha memória vôou longe. Pra Loli, que tanto me pediu, taí mais um pedacinho. Quem sabe eu me empolgo e coloco mais alguma coisa por esses dias? E pra quem não está entendendo nada, vai no link e desce a rolagem. As 3 Cenas posteriores à essa estão no mesmo mês. É só descer a rolagem e procurar os títulos.

Cena 1 - A Criação (04/11/03)
Cena 2 - O mix de adolescência (08/11/03)
Cena 3 - A Caminho do Altar (19/11/03)