10 dezembro, 2008
Jacareí está derretendo. No corpo, várias marcas de sol, cada dia uma diferente da outra, conforme a blusinha que usa. Na volta do trabalho, compra uma casquinha do McDonalds a um real, e sai tomando praticamente um milkshake dentro de um cone. As vezes, a tensão é insuportável. E a cidade se dissolvendo ao sol. Não há sorvete que resista, nem corpo que aguente tanto. Cansada de frases automáticas que dizem e desdizem. Final feliz? Não sabe bem o que é, só sabe que precisa. Combate medo com medo e faz do temor um antídoto. Talvez esteja traumatizada pela mudança. Em pouco tempo, teve uma vida desfeita, deixou de pertencer. Se pudesse eliminar a memória, estaria salva. Mas, por enquanto, derrete feito o sorvete. Gostaria que a vida fosse um livro onde pudesse editar tudo e deixar exato. Poderia reescrever, reouvir, reciclar, e se não desse certo, faria tudo de novo. Melhor seria um gravador. Um gravador de pensamentos.