29 outubro, 2008
Mandei um email, longo, dizendo absolutamente tudo que eu queria dizer. Vomitado, cítrico, com azedume em certos parágrafos, feito bílis. Era a chance da minha última palavra, que as vezes fazemos tanta questão, e que, confesso, pra mim era importante.

Por um dia todo, verifiquei se tinha resposta. Claro que não tinha. Melhor assim. Tomei o gosto da vitória, finalmente estava livre de vez. Não que eu soubesse o que eu ia fazer com essa liberdade, mas de fato, foi notório minha mudança. Psicologia a parte, foda-se a explicação pra isso... eu ia seguir meu roteiro, que eu mesma havia criado pra mim.

Mas a vida não é justa. Onde eu estava com a cabeça que isso ser assim? Uma pessoa, que não eu, descobriu coisas do fundo do baú inimagináveis, até mesmo pra quem o conhecia muito bem, feito eu. Uma pessoa, que não eu, mesmo tanto tempo longe, se doeu ainda mais com as descobertas, sujas, podres, inaceitáveis. Uma pessoa que não eu, embora eu mesma, roubou todas as senhas, e numa crise imensa de masoquismo, viu cada email, descobriu orkut's, viu contatos no msn indesejáveis. Viu datas, sofreu, ligou os pontos, comparou. Socos no estômago, ânsias de vômito, muita crise, sofrimento, angústia.

Uma pessoa, que não eu, ligou cheia de coisas pra falar, pra xingar, e mesmo por telefone, tinha muita força pra bater, na cara, com a mão aberta. Não atendeu. Mas entrou no msn. E foi por msn mesmo, que chegou uma hora que faltou predicados. Resignação. Falta de tudo. Não havia mais o que falar. Não chegava também as respostas. Fechei tudo, limpei as lágrimas, respirei, fui trabalhar. Pensamentos inflavam na cabeça da pessoa, que não era eu, embora eu mesma.

Uma hora depois, ele estava lá, na minha frente. Como poderia? Da onde tinha tirado coragem? Eu muda e sem ação. Um merengue na frente dele. Tentou falar, mas eu estava trabalhando, e mesmo sem precisar explicar isso, escreveu um bilhete e deixou na minha mesa. O bilhete tinha o peso de muitos anos. Ficou lá, embaixo do porta-retrato das meninas durante a hora inteira que se seguiu. Não que eu não tivesse tempo de lê-lo, mas não conseguia pegá-lo.

Audácia.

De tarde, eu estava lá, como escrito no maldito papel. Porque sou assim: curiosa. Eu não! essa outra, que de mim tomava conta. E foi isso que eu disse quando cheguei: sou curiosa. Mas mal saíram as palavras; viro uma pata diante dele. Mais de um ano se passou desde o fim definitivo, mas ele ainda manda em mim - talvez porque nenhum outro queira o lugar, ou talvez porque eu nunca mostrei que o lugar tá vago, mesmo sentindo muita solidão. De fato, não sou feliz sozinha. E lá estava eu, muito mal sentada na ponta da cama dele, na casa dele, com os móveis novos dele. Sentar ali significava minha fraqueza. Mas ainda assim, curiosa e altamente masoquista.

Só ele falou, por umas... o quê? Duas, três horas. Vez ou outra eu me ajeitava no cantinho que escolhi daquela cama box, casal, quantas já tinha trepado com ele ali? Saí, ele veio atrás, continuou falando, achei por um momento que havia perdido o dom da fala até. Não me vinha nada... só pensamentos atropelados e algumas lágrimas que secavam sem cair.

A verdade. "Toda a verdade", dizia ele a cada história. Tudo que um dia pensei ser, era mesmo, até pior. Até que chegou o fatídico 'vou te amar pra sempre'. Aí as palavras saíram feito represa rompida. AMOR? Que noção há de amor nisso tudo? Como tem coragem de falar de amor no meio de tanta sujeira? Não me fale de amor, seu verme. Ia começar tudo de novo. E quando vi que não moveria nada com isso, que praticamente isso não teria o menor cabimento, parei.

Eu, que não era eu.

E sabe esse roteiro? Balela.

Mesmo sem ter, mesmo sabendo de tudo, mesmo nunca mais querendo ter, não há roteiro.

Mas esse bueiro eu fechei.