15 novembro, 2007

Tem um ditado, conhecidíssimo, que diz que a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional. Muito bonito, muito profundo e, em dias melhores, até faria uma piadinha, dizendo que li num livro, riríamos e bola pra frente.

Mas não é beemmm assim que funciona. Se um dia me fosse dado o poder da recriação, eu colocaria em cada um de nós um botãozinho de 'off', exatamente pra dias assim. Basicamente, vegetaríamos nesse dia. Trabalharíamos (quem tem a honra de ter um emprego, claro) no automático, nos alimentaríamos, nos limparíamos e o botão lá, em off, nos protegeria da cabeça pensante all time, do medo do futuro, da sobrecarga, enfim, nos desligaríamos daquilo que incomoda e quando fosse hora, ligaríamos de novo e resolveríamos. Porque todos nós sabemos que esse dia, o da melhora, até chega. Mas demora.

Grande bobagem.

Ia acabar dando um curto-circuito no mundo, porque ia ter neguinho que ia viver com o botão off ligado. Daí ia virar um inferno de coisas sobrecarregadas e ia dar merda, sabemos. Mas que essa vida meio que 'Brilho eterno de uma mente sem lembrança' é o meu maior sonho de consumo esses dias todos, confesso que é sim.

Faz mais de um mês que a minha avó faleceu e parece que foi ontem que beijei-a nove e meia da noite, super bem, e três horas depois, ela tinha falecido. Uma coisa tenho que admitir: o tempo voa. Na minha adolescência, li que 'o tempo não cura nada, apenas desloca o incurável do centro de atenção', e essa frase é tão certa como a qual comecei esse texto.

Eu acabei filtrando demais a vida toda e me sobrou pouquíssimo, mas esses que ficaram -e dá pra contar nos dedos de uma só mão- não são pessoas: são anjos. Estou com 33 anos e há pouquíssimo tempo descobri realmente o que é um anjo. Nada a ver com criancinhas fofinhas aladas, nuas de cabelo encaracolado e olhos azuis. Ou adultos, com poderes especiais, de nos tocar e a paz reinar. São pessoas como eu ou você, mas que possui algo que ainda não decifrei, apenas possuem, fim. Nem é pra ser decifrado mesmo.

Elas existem pra te mandar um email do nada, no meio de um dia sabe-se lá que jeito, talvez tumultuado, talvez tranquilo, o que importa? Mas elas páram seu trabalho, sua vida, seu momento, seu almoço, sua leitura, sua responsabilidade, e mandam um email pra você, com uma simples linha:

"Deixa eu cuidar de você."

E você, que está ali, no seu buraco, se perguntando: "e agora?" se sente mais forte pra continuar, porque tem alguém, do outro lado - e nem noção da onde exatamente- que quer cuidar de você; coisa que nem seu irmão fez, nem aquele que você julgava ser o melhor dos amigos de todo o universo, fez. Não é maluco? Aqui eu abro um pequeno sorriso, por me lembrar desse email, o qual eu respondi apenas um "Deixo. Sempre."

As vezes, eu me sinto uma idiota por ter decaído tanto. Me pergunto onde estou, onde me escondi. Eu já sabia que a vovó morreria mais cedo ou mais tarde, doeu o desvínculo forçado, mas porra, não foi só isso. Eu já andava num caminho que só encontrei subtrações e uma após a outra vezes quinhentas vezes, enfraqueci. E muito. Tem madrugadas que me pergunto o que fiz de tão grave ou se é só um longo teste, sei lá. Tá, já tive fases péssimas, mas um ano todo péssimo eu nunca tive. Tenho que aprender a lidar com isso, tenho que entender, de uma vez por todas, que a culpa não pode ser só minha. Não pode.

Mas enquanto não entender, emails como esse, comentários fofos aqui e as meninas (putis, tenho filhas maravilhosas) seguram a minha onda. Exemplo de ontem mesmo, quando eu falei que estava com dor de cabeça de tanto ver televisão, não tinha mais nenhum livro pra ler e a Tel disse: "Então vamos brincar de boneca, mamãe?".

Vai chegar esse dia. E eu espero ansiosamente que chegue... esse dia que a maior das preocupações será escolher o nome pra minha boneca.