07 maio, 2005

Ontem eu fui num casamento que marca minha irrisória vida. O casamento da filha do chefe. E isso daria até um bom título de filme. "O casamento da filha do chefe". Porque, senhoras e senhores, foi onde me senti. Por três ou quatro horas me senti dentro de um filme. Daqueles, hollywoodianos.

Bom, se é um sábado bom, daqueles bacanas pra você, tchau aqui. Vá fazer coisa melhor do que ler toda uma história sobre o casamento de alguém que você nunca nem viu. Agora, se teu sábado está vazio e não tem nada melhor que fazer, leia, leia. Mas advirto que este post provavelmente será daqueles enormes.

...

Eu me assustei quando recebi o convite. Apesar da moça ser bacana, e ela trabalhar no mesmo ramo que eu, ela é filha do cara mais rico que eu conheço: meu chefe. Quando digo que eu conheço, é conhecer mesmo, de ir na casa do cara, essas coisas. Claro que tem gente muito mais rica que ele, mas enfim. Recebi o convite. Convite esse que me lembrou uma música sertaneja, porque era vermelho com letras douradas. (Sim, eu disse vermelho com letras douradas). E lá, bem no finzinho, estava anexado o convitinho (esse menor, branco, normal) da festa, com o pequeno detalhe que faria toda a diferença: a festa seria black-tie.

Primeiro pensamento: "Há, nem". Não iria entrar naqueles vestidos brilhantes cheios de pedrarias e rendas nunca. Mas, como o convite veio com mais de um mês de antecedência e meus colegas de trabalho sabem o quanto sou influenciável, acabei na última semana que antecedia evento às voltas com aluguel de vestido, compra do sapato e pacote completo no salão de beleza. Optei por um vestido longo de cetim azul rodadinho, a partir do busto, para esconder as visíveis imperfeições no corpo da sereia aqui. Sem pedrarias, sem renda, sem nada. E aumentei uns 4 cm centímetros de meus irrisórios um metro e sessenta e cinco, calçando um sapato que paguei os olhos da minha cara, porque, obviamente, o vendedor sacou também o quanto era fácil me convencer que aquele sapato combinava muito mais com o pedacinho de tecido que levei do que aquele outro, 50% mais barato e mais baixo, que eu tinha escolhido primeiro. Ah, claro, o sapato "acompanha" a bolsa que também fechava toda a graciosidade do conjunto.

Como nenhuma cabelereira desse mundo é pontual, me atrasei. E cheguei na igreja com o casamento no meio. Nessa confusão, inclua eu não ter encontrado uma vaga ao redor da igreja tão facilmente quanto eu imaginava. Inclua também eu ter que andar mais de 200 metros naquele salto pra chegar até à igreja. E não se esqueça que a igreja estava lotada e tive que ficar de pé. Lógico que um ser-humano no gabarito da filha do meu chefe não casaria na igreja matriz, que é maior, tem estacionamento enorme e é bem perto de casa. O must é casar em igreja pequena, com ventiladores que não funcionam e sem estacionamento. Claro.

Eu não continha os risinhos de ver todos de smocking. Ah, vá, eu estava completamente fora de minha realidade, tinha que me divertir de algum jeito. E louca pra um cantinho naqueles bancos de quatrocentos anos da igrejinha. Depois de uns 20 minutos de pé, fiz nota mental de agradecer mais tarde à cabelereira que demorou pra terminar meu cabelo, porque o casamento estava sendo longo demais pra quem chegou depois da entrada das alianças. Na hora da saída da noiva, comecei meu trajeto de volta pro carro, rumo à festa, na casa do meu chefe.

Da igreja, percebi somente que estava lotada, amores. Não reparei em ninguém, a não ser nos pinguinzinhos aos montes. Homens de smocking é uma coisa sórdida, ao meu ver. Mas tá. O restante, passou desapercebido. Até mesmo a decoração. Vi uns panos de organza amarrados nos bancos, mas não entendi a função daquilo. E vi que a voz da moça que estava cantando na saída da noiva, acompanha por violinos, me arrepiou de tão linda. E só.

Pego meu carro e sigo pra festa. Jurando que só eu tive essa brilhante idéia, (de sair um pouco adiantada), outra surpresa ao chegar na rua: lo-ta-da de carros. Pronto, outro martírio, pensei. E quando olho direito, percebo um moço de colete preto e gravatinha borboleta se aproximando. Oh, manobristas. Gente coisa é outra chique. Lá vou eu, no alto dos meus quatro centímetros a mais, adentrar a casa toda iluminada por holofotes. Juro, tinha uns holofotes girando pra lá e pra cá, iluminando a mansão toda. Senhor, protegei-me.

Logo na entrada, moças em vestidos de madrinhas, todas iguaizinhas, distribuíam rosas vermelhas para todos os convidados. Depois de um breve reconhecimento, naquele mar de gente, avisto dois amigos de trabalho e me junto à eles. Os noivos nem tinham chego ainda, e aquilo estava uma loucura. De pé de novo, pensei. Até que um gênio teve a idéia de procurarmos um lugar perto da piscina. E sim, tinha. Escutei meus pés aplaudindo a decisão. E eu já não sabia mais o que fazer com aquela rosa na mão. Eu e os outros 5257289752 convidados. Aos poucos, fomos vendo que rosas estavam sendo displiscentemente depositadas 'por aí'.

Assim que entrei na festa, antes mesmo de encontrar os tais amigos, um garçom chegou com a bandeja cheia de copos com bebidas variadas. Comecei aí a me sentir dentro de um filme. Eu nunca tinha visto isso. Só em filme. Então, pronto. Eu estava dentro de um filme. Sempre fui servida na mesa com garrafas e tal. Mas pela primeira vez tinha visto garçons rodando por todos os lados com as bebidas já servidas no copo. Tinha champanhe, cerveja, refrigerante, amarula, whisky, mastinis, vodka... tudo em seus respectivos copos apropriados. Peguei um de champanhe logo. Se é pra estar dentro de um filme, que beba direito então.

Quando decidimos ir pra perto da piscina, rodeada de mesas ainda vazias, esquecemos o fato de que a área da piscina é meio escondida e só conhecemos porque é a casa do nosso patrão. Tem que subir uma escada, é numa 'asa-direita' como chamam. E parece que só a gente subiu pra lá. Até os garçons desconheciam a área. E eu, na correria, estava morrendo de fome. Mas tomando champanhe, que é o que verdadeiramente importava.

Acho que minha barriga começou a roncar, depois de uma meia-hora tentando entreter-se nos modelitos dos convidados lá de cima (sim, tínhamos ampla visão de tudo), e alguém condoído de minha fome, desceu pra avisar os garçons que existíamos. E junto com a subida dos comes e bebes, alguns pés doloridos também se achegaram no recinto e não nos sentimos mais tão sós.

Os noivos já tinham chego, fiquei sabendo. Houve até chuva de arroz, me fofocaram depois. Pôxa, e eu perdi ato de tão significância. A essa altura, sentou mais gente conosco e nos esbaldávamos em tudo quanto é tipo de salgadinho quentinho e gostoso. Me matei de tanto comer tortilhas de tomate-seco, iscas de frango e casquinhas de siri. Ora, você achou mesmo que eram coxinhas e rissoles? Lembre-se o naipe do casamento de onde eu estava. Coxinhas... humpft. O que era coxinha mesmo?

Foi quando avistei a noiva e reparei no vestido. O VESTIDO. De uma elegância. A elegância da simplicidade. Ronaldo Esper nunca alfenetaria um vestido daqueles. Nem o Clô. Estava realemente linda, a moça. Já o noivo, pobre coitado, estava prestes a ter um colapso, conjecturamos. Devido à noitada anterior, ficamos sabendo. Com moças saindo de dentro de bolo e tudo. Porque fofocar é tudo nessas horas. Quando ela -a noiva- finalmente subiu pra piscina (devidamente coberta com um tampão anti-bêbados) fui cumprimentá-la. E depois desse acerto, três beijinhos e o desejo de sinceras felicidades, posso garantir que ela nem se recordou de quem eu era naquele momento. Com tantos convidados, acho que ela nem sabia mais o que estava fazendo ali.

Empanturrada de comes (e bebes), decidimos dar um giro social pela casa toda. Idéia má. Muito má. A multidão enfurecida, com seus copos na mão, tomavam cada centímetro daquele lugar. E eu, com esse amor todo à pessoas me tocando, empurrando e amassando, me aproximei do quadrado vazio de chão mais próximo que avistei. Perdi todos que estavam comigo de vista. Parecia, de repente, um filme japonês, de terror. Todos os homens estavam absurdamente iguais naquele traje. Sem muita insistência na procura, respirei profundamente e mirei a saída. E ao som de Usher, gritando em todas as cabeças, na agulha do DJ, saí em busca do meu carro. À francesa, claro. Porque dizem ser um charme.

Com os sapatos enlaçados nos dedos da mão, entrei no carro, trago de volta pelo mesmo manobrista. Sorri, pensando em tudo, à caminho de casa. E hoje acordei com um amigo meu me ligando preocupado onde raios eu tinha me enfiado, que ele não tinha me achado mais e blablabla. E que o bolo estava uma delícia, e que a moça que pegou o buquê se esbofeteou-se com outra e eu perdi. E que a festa seguiu até às 4 da madrugada. E que os noivos vão pra Miami hoje, em lua-de-mel. E que dá vontade casar de novo, quando a gente participa dessas coisas assim, tipo filme. Às vezes, a vida é bela.

E pensar que eu não ia.